Brasília, 19/8/2004 (Agência Brasil - ABr) - Após decisão do Supremo Tribunal Federal autorizando o retorno do povo Xavante à Terra Indígena Maraiwatsede, na última terça-feira (10), no município de Alto Boa Vista, no Mato Grosso, agricultores e fazendeiros não se mostraram conformados. Na tarde desta quarta-feira (18) eles fecharam as BRs 158 e 080 e deixaram funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai), da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e de uma Organização Não-Governamental (ONG) ilhados na reserva. Segundo o bispo de São Félix do Araguaia, D. Pedro Casaldáliga, a decisão do Supremo é "salomônica", ou seja, não deu posse definitiva a nenhuma das partes.
"A decisão é um salomônica, porque os índios têm podido entrar na sua terra legalmente reconhecida como tal. No entanto, legalmente, a Justiça também permite que os ocupantes continuem nela. Isso não pode ser uma solução definitiva, de jeito nenhum, porque já está criando atritos e, futuramente, causaria mais", disse o bispo.
Segundo D. Pedro Casaldáliga, a solução seria o assentamento em terras da reforma agrária para aqueles que são "realmente lavradores sem-terra". Ele acrescentou que os fazendeiros e comerciantes, que já têm "a sua saída na vida", não podem reivindicar o direito à terra de reforma agrária.
Casaldáliga contou que a lentidão da decisão da Justiça possibilitou a invasão da reserva nos últimos 12 anos e denunciou que políticos e fazendeiros se aproveitaram da situação. "Vamos recordar que os índios foram expulsos no ano de 1966 e sempre continuaram reivindicando a área da reserva. Foi na época da Eco-92, no Rio de Janeiro, que alguns políticos do Estado e da região, além de fazendeiros, estimularam a invasão destas terras. Eles sabiam que, se viessem os índios, a terra seria deles", contou.
Uma das barreiras dos posseiros fica bem em frente ao Posto da Mata, que é área dos índios Xavantes mas onde se criou um "autêntico povoado", na visão de D. Pedro. Segundo o bispo, há rumores de que os índios seqüestraram pessoas, mas ele diz que não é verdade. "É uma calúnia. O que os índios estão fazendo é ir às casas dos invasores e propagar que a terra é deles e que terão que sair da área", defendeu.
Segundo Casaldáliga, a situação dos Xavantes é precária. "Morreram três crianças e 14 foram internadas. Falta verba à Funai para atender às urgências maiores de alimento, de condução e de abrigo, inclusive. Mesmo estando no Mato Grosso, a beira da mata à noite é fria e eles precisam começar a pensar em preparar a lavoura, já que estamos no mês de agosto", lembrou.