Spensy Pimentel
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Na última parte de sua entrevista exclusiva à Agência Brasil, o economista Delfim Netto fala sobre o desafio da retomada dos investimentos públicos, hoje diminuídos graças ao endividamento do Estado e, segundo o economista, também por um inchaço dos órgãos públicos. "O Estado precisa ser encurtado... É uma vergonha! Esse nosso Estado não cabe no PIB (Produto Interno Bruto). É preciso reduzir esses ministérios à sua verdadeira proporção", afirma. Leia a seguir os trechos finais da entrevista.
Agência Brasil – Como enfrentar o desafio da retomada dos investimentos?
Delfim - Crescimento de verdade significa investimento. Para crescer, é preciso investir, aumentar a capacidade produtiva. O investimento público ajuda na retomada do investimento privado. Só que, no Brasil, durante algum tempo, não houve sobra no governo para isso. O governo se endividou dramaticamente, a carga tributária já é tão grande que não pode ser aumentada. Ela é a maior do mundo. Para um país de renda per capita de US$ 3 mil como o nosso, é assustador.
Suspeito que a estimativa do primeiro trimestre vá prevalecer para o ano: a carga tributária vai chegar este ano a 40% do PIB (Produto Interno Bruto). Como o governo se comprometeu que tinha que ficar em 38%, há uma chance de transformar esse limão numa grande limonada geladinha, suave, isentando totalmente o investimento de impostos e dando uma pequena facilidade para operações em bolsa, reduzindo o imposto de renda do lucro em bolsa. De tal maneira que você faz duas coisas: estimula a bolsa e baixa o custo do investimento. Com isso, na minha opinião, você acelerará ainda mais o crescimento.
O Brasil precisa reconhecer o seguinte: quando começar a crescer, com a taxa de juros no lugar adequado, com o câmbio real adequado, a relação dívida / PIB vai declinar. A partir de um certo momento, você precisa de um superávit primário muito menor para manter a relação dívida / PIB constante e, portanto, o estado vai readquirindo a sua capacidade de investir.
ABr - O que mais pode ser feito? Fala-se na necessidade de enxugamento do Estado...
Delfim - O Estado precisa ser encurtado... È uma vergonha! Esse nosso Estado não cabe no PIB. É preciso reduzir esses ministérios à sua verdadeira proporção. Pega o Ministério da Saúde, cria um Conselho de Saúde Federal e joga todo o resto nos municípios. Mesmo os estados não precisam ter aqueles gigantes... Só se dá saúde nos municípios. Ninguém dá saúde na União.
E isso é a mesma coisa com a educação. O que acontece? Eu entro com R$ 1 na saúde e saem R$ 0,10 para o desgraçado que está doente. Não é só corrupção. Há internamente um processo autofágico. O próprio Ministério consome R$ 0,90 daquilo que iria para o doente. Com a educação, é igual. E fica aqui o sujeito, professor catedrático PhD, decidindo se o professorzinho lá do município tem direito a férias...
ABr - Essa crítica foi feita nos últimos anos pelos neoliberais, com a idéia de Estado mínimo. É possível fazê-la de outra forma?
Delfim - Não tem nada a ver. O Estado não precisa ser grande. O Estado precisa ser forte. E o Estado tem que ser mínimo mesmo. Mínimo no sentido de que ele só precisa dos recursos de consumo o mínimo possível. O resto é investir.
Não tem nada a ver com neoliberalismo. Até porque esse neoliberalismo que está aí não tem nada a ver com o liberalismo. Não há nenhuma ligação entre esses fatos. O Estado mínimo, como se pensa do neoliberalismo, é completamente falso. É a idéia de que o mercado é capaz de produzir crescimento. O mercado não produz nem crescimento, nem justiça, nem eqüidade. O mercado precisa ser controlado.
Agora, o mercado é o instrumento mais eficaz para se ter eficiência. A concorrência é uma coisa importante. O governo tem que ser forte o suficiente para poder cortar o seu consumo e ampliar o seu investimento. E tem que ser forte o suficiente para impedir que o mercado cometa as barbaridades que comete quando é deixado a si mesmo.
Leia também os demais trechos da entrevista.