Nasi Brum e Juliana Cézar Nunes
Repórteres da Agência Brasil
Brasília – Subiu hoje para 14 o número de crianças xavantes, etnia Marãiwatsede, internadas nos hospitais do Mato Grosso com pneumonia e desnutrição. Três crianças da mesma tribo morreram nos últimos sete dias. Todas elas estavam em um acampamento indígena na BR-158, perto de São Félix do Araguaia (MT). Ao todo, nesse local, estão 120 crianças vivendo em condições precárias com aproximadamente 400 adultos da etnia.
"Os índios estão muito tensos e ansiosos", conta o representante da Funai, Edson Beiriz. Segundo ele, uma aeronave com dois médicos e uma enfermeira deve chegar à rodovia ainda nesta quarta-feira. "Amanhã, embarcam para a região dois engenheiros sanitários, outra enfermeira e, provavelmente, outra nutricionista."
Os índios xavantes se recusam a sair da BR até que a justiça derrube as liminares concedidas a fazendeiros e autorize a entrada na reserva índigena, destinada a eles por decreto assinado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Atualmente, a reserva está ocupada por cerca de 400 famílias de posseiros, fazendeiros de soja e madeireiras clandestinas. "A possibilidade de conflito é iminente", alerta Beiriz.
Segundo ele, os xavantes estão vivendo em condições precárias, alimentando-se com cestas básicas doadas pela Funai e utilizando água sem tratamento de um córrego. A Funai pediu uma audiência com o juiz da 5ª Vara federal de Cuiabá, José Pires, que vai decidir sobre a desocupação da reserva. Representantes da Advocacia Geral da União e do Ministério Público ajudam na articulação do encontro.
Mudanças forçadas
A terra indígena Marãiwatsede está situada no município de Alto Boa Vista (MT) e conta com 165 mil hectares. Os índios xavantes Marãiwatsede estão desde a década de 60 fora de sua terra original. Nessa época, o governo de Mato Grosso vendeu a área a um grupo de usineiros do interior de São Paulo e a tribo acabou expulsa. Trasportados em aviões oficiais, ele foram levados para a reserva xavante São Marcos, em Água Boa (MT). Somente nos primeiros dias após a transferência, morreram de sarampo 64 índios.
Brigas entre clãs da São Marcos e da etnia Marãiwatsede motivaram uma nova transferência, dessa vez para uma reserva em Pimentel Barbosa, no mesmo estado. "Com a demarcação da terra pelo então presidente Fernando Henrique, em 1988, eles começaram a pensar em voltar para terra que lhes pertence. A tribo quer ter de novo espaço para seus ritos, caças e plantações", revela o administrador da Funai, Edson Beiriz. "Há nove meses, os índios voltaram para a região, mas foram impedidos de entrar na reserva."