Marcos Chagas e Nelson Mota
Repórteres da Agência Brasil
Praia (Cabo Verde) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu hoje uma relação comercial mais justa entre os países, independente do grau de desenvolvimento. "Não queremos depender de arranjos privilegiados com países desenvolvidos, que distorcem o sistema internacional e nos condenam à eterna dependência de concessões desiguais e incertas", disse. O governo brasileiro apóia o ingresso de Cabo Verde na Organização Mundial do Comércio (OMC) com o argumento de que interessa aos países em desenvolvimento um sistema multilateral de comércio "forte e atuante".
Durante discurso no Parlamento de Cabo Verde, o presidente também criticou o protecionismo dos países desenvolvidos. "É inadmissível que multidões permaneçam em extrema pobreza devido às barreiras impostas pelos países desenvolvidos". Lula acrescentou que, a decisão da OMC de rever os subsídios do governo norte-americano aos produtores de algodão do país, "abre caminho para que países da África Ocidental tenham assegurada sua competitividade na produção de algodão, assim como na produção do café e do cacau".
Em Cabo Verde, como em São Tomé e Príncipe e Gabão, outros países africanos visitados, Lula convocou os países em desenvolvimento a aceitarem o desafio de discutir medidas práticas de combate à fome e à miséria. A pedido do governo brasileiro, as Nações Unidas promoverão em setembro, em Nova York, um encontro de líderes mundiais para debater a questão.
"Não haverá estabilidade econômica internacional, nem proteção contra o terrorismo, enquanto não atribuirmos prioridade à construção de uma ordem mundial mais justa e democrática", afirmou o presidente aos congressistas caboverdianos. Com o programa Fome Zero, Lula disse que os brasileiros mostraram que "a fome e a extrema pobreza têm rosto - mas também solução".
Segundo o presidente, a mobilização internacional contra a fome e a miséria já começou. E citou como exemplo o fundo criado por Brasil, Índia e África do Sul que tem como objetivo "demonstrar que a obrigação moral, política e econômica de colaborar é de todos". Um primeiro projeto deste fundo já foi aprovado e beneficiará Guiné-Bissau, com programas para o desenvolvimento sustentável da agricultura e da pecuária naquele país.
Lula também afirmou aos parlamentares caboverdianos que "o Brasil encontrou a rota de crescimento", ressaltando que isso foi possível porque o país fez "sacrifícios" para afastar ameaças à estabilidade fiscal e financeira. O objetivo, voltou a repetir, é garantir o "crescimento sustentável e duradouro, centrado na geração de empregos e na distribuição de renda". E acrescentou que o rumo determinado pelo seu governo não é de fazer o Produto Interno Bruto (PIB) crescer, "mas resgatar a imensa dívida social no Brasil". Lula enfatizou ainda que os resultados econômicos atuais só fazem sentido se servirem para restituir "a milhões de homens e mulheres os elementos básicos da cidadania".
A comitiva presidencial deixa Cabo Verde às 16h30 e a chegada a Brasília está prevista para as 20h30.