Stênio Ribeiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Preocupados com a resistência da inflação, os diretores do Banco Central mudam um pouco a leitura do comportamento de mercado e admitem que "a manutenção da taxa básica de juros nos níveis atuais por um período prolongado deverá permitir a concretização de um cenário benigno para a inflação". Segundo os técnicos, esse cenário estimula a convergência das trajetórias de metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
É o que preconiza a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada, na qual o colegiado do BC admite, pela primeira vez, a possibilidade de o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano ultrapassar 7% e de o IPCA de 2005 ser maior que a meta de 4,5% - em sintonia com as expectativas de consultores e analistas de mercado.
A ata do Copom, distribuída hoje, revela que o BC elevou a projeção de inflação deste ano de 6,71% para 7,10%, na comparação com a estimativa do mês anterior - mais distante do centro da meta de 5,5% - e passa a trabalhar com estimativa de 1 ponto percentual acima da meta de 4,5% para o ano que vem. A perspectiva de inflação para os próximos doze meses também aumentou de 6,03% para 6,27%. As projeções consideram a manutenção dos juros em 16% ao ano, com taxa de câmbio de 3,00, no final de 2004.
Resta, assim, pouco espaço para a esperada redução da taxa Selic e o Copom adverte que, ao contrário, estará pronto para adotar "postura mais ativa", se necessário, caso venha a se consolidar um cenário de divergência entre a inflação projetada e a trajetória das metas.
De acordo com a ata do Copom, esse cuidado que se faz necessário em virtude da majoração dos preços no atacado, que acabam influenciando o mercado varejista. Como resultado, a inflação deste mês será, provavelmente, mais alta que o IPCA de 0,71% de junho, em decorrência dos reajustes de energia elétrica residencial, telefonia, combustíveis, transporte urbano, carnes, laticínios e preços industriais.
O Copom destacou, ainda, que os núcleos de inflação têm se situado em valores relativamente estáveis nos últimos meses, mas "em patamares incompatíveis" com as metas de inflação de médio prazo, e o processo de elevação das expectativas, iniciado em maio, manteve-se em junho e recrudesceu neste mês.