Carolina Pimentel
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Depois de seis meses, a Polícia Federal começou a decifrar os assassinatos dos três fiscais e do motorista do Ministério do Trabalho, em 28 de janeiro deste ano, em uma estrada próxima a Unaí (MG). Os servidores estavam fiscalizando propriedades rurais da região. No último domingo, os policias prenderam, em Formosa (GO), os pistoleiros responsáveis pela execução dos crimes. São eles: Francisco Élder Pinheiro, conhecido como "Chico Pinheiro", Erinaldo de Vasconcelos Silva, Rogério Alan Rocha Rios e William Gomes de Miranda. O delegado da PF que está cuidando do caso, Antônio Celso dos Santos, acredita que o inquérito seja concluído nos próximos 15 dias.
Os executores foram detidos durante uma operação para prender uma quadrilha de roubo de cargas que estava atuando no município. Além das mortes dos servidores, os pistoleiros são acusados também de terem cometido assaltos e roubos a caminhões. Junto com eles, a polícia encontrou três carros e um relógio de um dos fiscais assassinados, Eratóstenes de Almeida Gonçalves, o que confirmou o envolvimento da quadrilha nos crimes. O relógio foi encontrado em uma fossa na casa de Erinaldo Silva.
Dos três carros apreendidos com os matadores, um foi roubado no Distrito Federal e estava na casa de Rogério Alan. Os outros dois vão passar por uma perícia, pois a Polícia acredita que eles foram comprados com o dinheiro do crime.
Na segunda-feira a Polícia Federal chegou aos dois agenciadores dos crimes: o fazendeiro Hugo Alves Pimenta e seu funcionário José Alberto de Castro, conhecido como "Zezinho", acusados de terem contratado os pistoleiros. Durante o anúncio da identificação dos assassinos e contratantes dos crimes, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, disse que os assassinatos pareciam desafiar o Estado. E completou que já era possível dizer "com segurança que o crime foi desvendado".
Apesar de ter chegado aos executores e agenciadores da chacina, a Polícia ainda está atrás do mandante intelectual do crime. O delegado de Homicídios da Polícia Civil de Minas Gerais, Wagner de Souza, apontou o fazendeiro Norberto Mânica como o principal investigado. "No momento, o mais contundente e que realmente está sendo investigado é o senhor Norberto Mânica", disse. Mânica é o maior produtor de grãos da região de Unaí (MG). Seu irmão, Antero Mânica, é candidato a prefeito na cidade.
O delegado mineiro explicou que os indícios levam ao fazendeiro porque ele chegou a ameaçar de morte o fiscal Nelson José da Silva, devido as multas aplicadas pelo servidor em suas propriedades. "As multas que ele levou eram realmente elevadas e, inclusive, ele chegou a ameaçar de morte o senhor Nelson numa dessas investigações. O fato foi registrado pela própria vítima", destacou. O delegado disse também que as multas devem chegar ao montante de R$ 2 milhões.
Crime
Nos depoimentos aos policias federais, os pistoleiros revelaram que o alvo inicial era apenas o fiscal Nelson José da Silva e que iriam receber R$ 25 mil pelo trabalho. Mas, ao descobrirem que o fiscal estava acompanhado de outros dois colegas e o motorista, o agenciador dos executores, Chico Pinheiro, entrou em contato com o contratante, Hugo Pimenta, pedindo mais dinheiro.
De acordo com o relato de Chico Pinheiro, o empresário autorizou a execução dos outros três servidores e dobrou o valor pago para cerca de R$ 50 mil. "Mata todo mundo que gente dobra o preço", teria dito Pimenta, segundo a informação da polícia. O diretor da Divisão de Combate ao Crime Organizado da PF, Getúlio Bezerra, o pistoleiro Chico Pinheiro (autor de outros homicídios) foi contratado por Pimenta para montar a equipe para a execução dos crimes.
A Polícia descobriu, também, que o pistoleiro Rogério Alan foi quem matou o fiscal Nelson Silva com dois tiros na cabeça. Erinaldo de Vasconcelos foi responsável pela morte do motorista Ailton Pereira de Oliveira. As quatro vítimas foram mortas com nove tiros e todas foram acertadas na cabeça. Os matadores receberam o dinheiro seis dias depois em Formosa (GO).
O delegado Antônio Celso, responsável pelas investigações, informou também que desde às sete da manhã do dia dos assassinatos (28 de janeiro), os pistoleiros já mantinham contato com os supostos mandantes dos crimes para saber a movimentação dos fiscais. Ele disse que os assassinatos ocorreram entre às 8h30 e 8h40. E, às 9h15, os pistoleiros avisaram os mandantes que as execuções já tinham sido efetivadas.
Para chegar aos acusados, a Polícia Federal rastreou 187 mil ligações telefônicas feitas na região de Unaí. Os dados foram cruzados com os registros de hospedagens em hotéis da cidade mineira. Com o cruzamento, a Polícia chegou a dois mil suspeitos e, somente depois, aos assassinos e intermediários. O delegado Antônio Celso informou que os dados colhidos no hotel confirmaram a identidade de dois pistoleiros. Os policiais federais contaram com apoio das polícias civis de Minas Gerais e do Distrito Federal.