Barreiras sanitárias também se preocupam com o bioterrorismo

25/07/2004 - 10h37

Lana Cristina
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A adoção de políticas públicas com o objetivo de minimizar as barreiras sanitárias se justifica pelo tamanho do agronegócio brasileiro. Responsável por 33% do Produto Interno Bruto (PIB), 42% das exportações totais e 37% dos empregos no país, as vendas externas de produtos agropecuários renderam US$ 36 milhões em 2003.

Nos últimos 10 anos, o setor cresceu a um ritmo significativo. Em 1993, as exportações chegaram próximo dos US$ 16 bilhões. São resultados que levaram a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), realizada em São Paulo no mês passado, a prever que o Brasil será o maior produtor mundial de alimentos na próxima década.

Mas é justamente a intensificação do comércio internacional a maior ameaça à segurança sanitária do setor. O trânsito de produtos agropecuários e florestais é uma via de dispersão de espécies invasoras, que podem se proliferar em condições climáticas favoráveis e se transformar em pragas. Por isso, a qualidade dos alimentos e do meio ambiente são prioridades para garantir a qualidade de vida do homem. Daí a iniciativa de criação da Rede de Pesquisa em Sanidade Vegetal, que tem a participação de institutos de pesquisa e universidades, além de técnicos do ministério da Agricultura.

A rede tem como metas desenvolver e oferecer tecnologia fitossanitária; elaborar um banco de dados de pragas quarentárias e não-quarentenárias regulamentadas (que ajudará a identifica a vulnerabilidade da agricultura brasileira ao permitir avaliar os riscos das pragas potenciais); melhorar o resultado dos métodos moleculares de diagnóstico, propor ações fitossanitárias de controle, contenção, imunização e erradicação de pragas; desenvolvimento de práticas de manejo integrado de pragas de grande impacto econômico, que possam inclusive gerar certificação de commodities agrícolas de exportação; e o desenvolvimento de técnicas de aplicação de agroquímicos.

Um dos resultados práticos dessas ações é a determinação de área livre de pragas, essencial para uma resposta rápida a um país importador de determinada cultura brasileira. A pesquisadora líder da rede, a bióloga Regina Vilarinho, exemplifica como isso pode ocorrer na prática: "se o governo dos Estados Unidos, hipoteticamente, quer importar limão do Brasil, mas quer saber se não foi identifica determinada praga típica dessa cultura, essa resposta pode durar de dois a cinco anos". Se o país, no entanto, tem um plano de sanidade animal e vegetal com informações seguras sobre as possíveis pragas, pode agilizar a resposta. Com isso, o processo de exportação não fica emperrado

Pragas quarentenárias são espécies ou raças de vegetais, de animais ou outro agente causador de doenças, que são nocivos a produtos vegetais. A não-quarentenária regulamentada é aquela praga cuja presença em plantas para cultivo podem comprometer seu uso, com grande impacto econômico e, por isso, é regulamentada como tal no território do país que está importando a cultura.

Outro exemplo citado por Regina Vilarinho de prejuízo às exportações nacionais é o da Trogoderma granarium, inseto que ataca grãos armazenados. A espécie nunca foi detectada no país, mas a simples desconfiança de que algum grão importado pelo Brasil entrou infectado por este inseto, pode gerar uma barreira sanitária a todos os grãos brasileiros. O chamado complexo soja, por exemplo, é o primeiro item da pauta de exportação brasileira, o que inclui o grão, o óleo e o farelo. "Atingiria toda essa cadeia", observa a pesquisadora da Embrapa.

A rastreabilidade, ou seja, a identificação de todos os processos de controle de pragas, é classificada por Regina como uma ação importante não só para minimizar as barreiras sanitárias dos países que importam do Brasil, bem como para evitar a entrada de pragas pela importação de culturas ou fazer seu controle. Se o país importa uma cultura contaminada, a proliferação da praga causa ainda prejuízos econômicos internos, como a queda na produtividade, o uso mais intenso de pesticidas e a conseqüente, poluição do meio ambiente.

Um país que pretende ter uma agricultura segura do ponto de vista sanitário, na opinião da pesquisadora, tem que usar lançar mão das seguintes informações e ações: a listagem das espécies-pragas, o monitoramento das pragas, o tratamento adotado para o controle, o volume de aplicação seja de pesticida ou de inimigos naturais (o chamado controle biológico), além de dados regulares de apresentação dessas pragas. "É preciso, por exemplo, rastrear as pragas existentes e as possíveis, para dar uma resposta mais rápida e reduzir a barreira", explica.

Além disso, Regina Vilarinho considera importante que as ações sanitárias usem protocolos harmonizados com outros países. "Precisamos usar métodos já aceitos em outros países para diminuir a barreira mais rapidamente", apontou. As ações a serem propostas no âmbito da Rede de Pesquisa em Sanidade Vegetal são essenciais também para o combate ao bioterrorismo na agricultura. "Imagine se alguém libera deliberadamente uma praga de expressão econômica no nosso território simplesmente com o objetivo de acabar com a disputa do seu país com o Brasil no mercado internacional, em relação a determinada cultura?", indaga a pesquisadora líder da rede.

O ministério da Agricultura elabora um Plano de Defesa Sanitária que deve absorver as propostas da rede. Um dos objetivos, por exemplo, é o de listar as 12 culturas mais importantes para o agronegócio e mapear as pragas que podem ameaçar sua produtividade, a exemplo do que foi feito pelos pesquisadores da rede para a soja.