Pesquisadora defende revolução tecnológica para uso sustentável da Amazônia

24/07/2004 - 10h31

Lana Cristina
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Fazer uma "revolução tecnológica nos ecossistemas da Amazônia" é a proposta da geógrafa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Bertha Becker, para promover o uso sustentável de áreas degradadas da floresta e a inserção social. Estudiosa de geopolítica e estratégias do processo de povoamento da Amazônia, a professora emérita da UFRJ chama sua proposta de revolução porque acredita que a ciência possa agregar valor aos produtos florestais.

"Temos que pensar em tecnologias high-tech para os vários usos da Amazônia, para produção de fármacos, extratos, comésticos, borracha, o que for,mas tudo isso promovendo a inserção social ao lado do avanço científico", opinou Becker. Para a pesquisadora, esse projeto teria que ser coordenado pelo governo, com estímulos aos empresários para investir nas atividades produtivas. Bertha Becker defende que os projetos sejam instalados em áreas onde haja infra-estrutura, para que a produção tenha por onde escoar. "Em 30 anos de trabalho de campo na Amazônia, já vi muitos projetos que tinham a pretensão de inserir a comunidade numa atividade econômica e ambientalmente viável, mas que não tiveram sucesso porque o grupo vivia isolado", disse.

A proposta da geógrafa se apóia em sua tese de que enquanto não se atribui valor econômico aos ecossistemas amazônicos, a floresta não poderá competir com commodities, como a madeira, a soja, o gado ou o ouro. Becker lembrou que áreas protegidas em forma de parques nacionais, por exemplo, ajudam a barrar o desmatamento para uso econômico da terra, mas não resolvem todo o problema. "Não vejo também serviços ambientais como o mercado de carbono produzindo efeitos práticos, por isso acredito que é preciso o envolvimento do setor produtivo e científico, coordenados pelo governo, para o uso sustentável das áreas que já foram desmatadas", observou.

Bertha Becker participou nesta sexta-feira, em Brasília, da pré-conferência "O Conhecimento Científico e a Formulação de Políticas Públicas para a Amazônia: A Experiência do Programa LBA", com o tema "Ciência e Política de Desenvolvimento Regional". O LBA, sigla para Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia, é um programa científico desenvolvido há seis anos, que envolve 1.200 pesquisadores brasileiros e estrangeiros em estudos sobre os ecossistemas amazônicos e as alterações que a floresta sofre pela ação do homem. Na próxima terça-feira, começa a 3ª Conferência Científica do LBA, na qual serão apresentados 800 trabalhos científicos.

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