Evolução da Biotecnologia no Brasil

16/07/2004 - 11h37

Eugen S. Gander e Francisco J. L. Aragão (*)

De uma maneira geral o início da biotecnologia moderna provavelmente é coincidente com a descoberta da estrutura do material genético em 1953. A biotecnologia sensu strictu na área da agricultura inciou-se com o advento das técnicas de DNA recombinante de um lado e de outro o reconhecimento de que plasmídeos do tipo Ti de agrobactérias podem ser manipulados e utilizados para a transferência de genes de um organismo para outro sem as restrições das barreiras naturais.

No Brasil, atividades precursoras às da biotecnologia moderna, iniciaram-se com os trabalhos desenvolvidos na USP sobre os cromossomos gigantes e a biologia molecular de insetos. Trabalhos que podem ser considerados como bases para a futura biotecnologia agrícola foram realizados no Instituto Agronômico de Campinas (IAC) na década de 1930 com o melhoramento genético de café, milho e outras espécies.

Também, nessa época, na Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq), um grupo de geneticistas realizava trabalhos de melhoramento genético de milho e hortaliças com métodos matemáticos aplicados à biologia. Destaca-se o IAC, com os trabalhos que se iniciaram na década de 30 para o controle da tristeza do citros, e o melhoramento de café, citros e outras culturas.

Podemos também destacar o trabalho do Instituto Biológico de São Paulo, com a geração de tecnologia para o combate de pragas do café , citros e algodão e o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), como o melhoramento genético de grandes culturas.

Porém, as bases da biotecnologia nacional atual foram estabelecidas através de grupos ativos na área de biologia molecular, na metade da década de 70. Destacam-se os esforços realizados na Universidade de Brasília (UnB), com a criação do curso de pós-graduação em biologia molecular em 1974, assim como atividades na mesma área na USP e na Universidade Federal de Rio de Janeiro (UFRJ).

O envolvimento da Embrapa com a biotecnologia agropecuária começou em 1982 com a criação do grupo da área de Biologia Molecular no Cenargen, oficialmente convertido em um centro de biotecnologia em 1986. Desde os estudos iniciais de expressão de genes em plantas e manipulação destes para o aumento da qualidade nutricional de leguminosas, várias tecnologias têm sido geradas, com obtenção de plantas resistentes a herbicidas e viroses. A Embrapa, juntamente com algumas universidades, como a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e USP, têm avançado em clonagem e engenharia genética de animais.

Nos últimos dez anos a comunidade científica brasileira desenvolveu uma respeitável capacidade de manipulação das novas ferramentas da biotecnologia, tais como a tecnologia do DNA recombinante e as pesquisas genômicas e proteômicas. O Projeto Genoma Brasileiro ganhou notoriedade com o sequenciamento da bactéria Xyllela fastidiosa, causadora da doença do amarelinho em cítricos. O Brasil tem hoje um corpo técnico altamente competente em todas as áreas envolvidas na geração de biotecnologias agropecuária, contando em 2003 com mais de 8 mil pesquisadores, distribuídos em mais de 2 mil grupos de pesquisa.

(*) Eugen S. Gander (egander@cenargen.embrapa.br) e Francisco J. L. Aragão (aragao@cenargen.embrapa.br) são pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), em Brasília.