Rigotto defende ação mais firme do Brasil nas negociações com a Argentina

14/07/2004 - 18h34

Gabriela Guerreiro
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A ameaça do governo da Argentina de impor ao Brasil uma rota única para os caminhões brasileiros que cortam o país com produtos de exportação para o Chile provocou hoje a reação do governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto. O governador se reuniu com o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, para cobrar maior firmeza do governo brasileiro nas negociações com os argentinos.

Segundo Rigotto, o Brasil não deve provocar uma guerra comercial com a Argentina ou retaliar o país vizinho, mas manter a firmeza na mesa de negociação – inclusive com ameaças de barreiras aos produtos argentinos caso os vizinhos insistam em aplicar sanções a produtos brasileiros. "Existe uma ameaça que, se for concretizada, depõe muito mais que as barreiras contra o Mercosul. Não tem lógica uma situação como essa, ela enfraquece o bloco, determina problemas para as relações comerciais Brasil-Chile, não pode acontecer", afirmou.

Além da ameaça da rota única para os caminhões, o governo argentino anunciou na semana passada restrições à importação de eletrodomésticos brasileiros de linha branca. Hoje, representantes dos dois países se reuniram em Buenos Aires para discutir a decisão - que foi suspensa temporariamente até o final das negociações.

Rigotto disse que a rota sugerida pelos argentinos dobra a distância para o transporte de cargas brasileiras ao Chile, e das cargas chilenas ao Brasil. Além de interferir diretamente na economia brasileira, o governador também teme os impactos nas contas do Rio Grande do Sul – que é o segundo maior exportador para o Chile atualmente e deixaria de receber 50 mil caminhões por ano.

"Brasil e Chile têm que se unir para impedir qualquer movimento nessa situação e mostrar todas as conseqüências dessas barreiras. Sabemos das dificuldades que os argentinos passaram e estão passando, mas existe uma pressão interna de empresários argentinos que querem barreiras que possam garantir empregos no país. Mas essas pressões não podem levar a decisões equivocadas que podem enfraquecer o nosso bloco regional", enfatizou.

O Mercosul, na avaliação de Germano Rigotto, vai ser diretamente afetado caso os argentinos continuem impondo barreiras no comércio com o Brasil. "A busca de terceiros mercados pelos dois países é algo que o governo brasileiro deseja. Mas para buscarmos terceiros mercados, as barreiras protecionistas aos produtos competitivos atrapalham", disse.

A decisão de impor uma rota única aos caminhões brasileiros foi anunciada na semana passada pelo governo argentino. A idéia era criar um único caminho para a circulação dos caminhões brasileiros e chilenos e, assim, evitar estragos às estradas argentinas. Ao invés de seguir de Uruguaiana (RS) para Santiago, no Chile, cruzando o centro do Argentina em uma linha reta, os caminhões teriam que passar pelo norte da Argentina, entrar no Chile ao norte do país para, depois, chegarem até a capital Santiago com o dobro do percurso atual. A medida não chegou a ser aplicada pelo governo da Argentina. Mas para o governador Rigotto, a decisão de não colocar em prática a rota única deve ser definitiva e o governo brasileiro deve aproveitar as negociações em curso com os vizinhos para descartar a possibilidade da rota única.

Na avaliação de Germano Rigotto, todas as recentes imposições feitas pelos argentinos, inclusive dos eletrodomésticos, não se justificam. "Nós exportamos entre os anos de 2000 e 2001 US$ 60 milhões em carnes de suínos para a Argentina. Em 2002, chegamos a US$ 40 milhões, mas muito distante do que já exportamos antes. Então não existe invasão de carne brasileira ou razão para qualquer barreira, inclusive de eletrodomésticos. Temos que ter os nossos negociadores com muita firmeza", defendeu.