Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O debate sobre a agricultura familiar volta à capital dois meses depois do Grito da Terra – manifestação que reuniu cerca de cinco mil líderes trabalhadores rurais ligados à Confederação Nacional dos Trabalhadores em Agricultura (Contag). Desta vez, as discussões serão coordenadas pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf), que realiza de segunda a sexta-feira próximas (12 a 16) o I Encontro Nacional da Agricultura Familiar.
A Fetraf espera reunir cerca de três mil agricultores no pavilhão do Expo Brasília, no Parque da Cidade. "As caravanas começam a chegar amanhã(11). São 72 ônibus de 10 estados. Na segunda, já teremos muitos debates, com a presença de secretários, ministros e, inclusive, do presidente Lula, às 12h30", informou Altemir Tortelli, coordenador geral da Fetraf Sul, região onde a presença da entidade é maior. "Queremos negociar políticas que mudem, de fato, a realidade da agricultura familiar."
A ida de Lula ao encontro não está prevista na agenda oficial de segunda-feira, divulgada pela assessoria do Palácio do Planalto, mas os líderes da Fetraf confiam no interesse do presidente em participar dos debates. Para eles, o governo federal tem demonstrado disposição para atender às demandas do campo.
Entre os exemplos de "boa vontade" do governo, estaria o aumento no repasse de verbas para o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). No último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, foram destinados R$ 2,2 bilhões ao programa. Para o ano que vem, o caixa é de R$ 7 bilhões.
"O setor agroindustrial ainda recebe cerca de R$ 10 bilhões a mais que os agricultores familiares. Esperamos que, em quatro anos, essa diferença diminua", afirmou Altemir Tortelli. Segundo ele, a reforma agrária continua sendo a parte mais frágil da política do governo para o campo.
"Também precisamos de mudanças profundas na política de crédito agrícola, além de uma revisão no conjunto de projetos destinados à aquisição de produtos da agricultura familiar. A erradicação da fome no Brasil só será possível com o desenvolvimento efetivo desse setor."
De acordo com Tortelli, na quinta-feira, haverá uma caminhada em direção ao Congresso Nacional. O objetivo é pressionar o Legislativo – em clima de recesso – a aprovar uma lei específica para a agricultura familiar.
O setor é responsável por quase 40% do valor bruto da produção agropecuária brasileira. Mais da metade da mandioca, do feijão e das carnes consumidas no país saem de propriedades familiares.
Atualmente, uma das grandes preocupações das lideranças é com a migração de jovens do campo para a cidade em busca de educação e emprego. Os mais engajados têm presença confirmada no encontro desta semana. "A juventude é vida para o movimento. Ela nos torna mais firmes e fortes", diz o coordenador geral da Fetraf/Sul.