Arthur Braga
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Documentos encontrados no Arquivo do Estado, trazidos a público pelo grupo Tortura Nunca Mais, provam que o militante da Ação Libertadora Nacional (ALN) Virgílio Gomes da Silva, o primeiro desaparecido político do país após a decretação do Ato Institucional Número 5, foi morto após ter sido preso pelo regime militar. Todos os documentos são da Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública de São Paulo.
A família de Virgílio recebeu os documentos do jornalista Mário Magalhães, que os encontrou entre documentos que solicitou ao Arquivo do Estado de São Paulo. Mário faz pesquisas para a redação de uma biografia sobre Carlos Marighela, comandante da ALN. Os documentos de Virgílio estavam misturados aos arquivos sobre os frades dominicanos, que eram investigados pela polícia política do regime militar. Uma página de rosto é encabeçada com a indicação "Os Símbolos", seguida das anotações "30-Z-160 – 4820, 4821, 4819, 4818" e um aviso escrito à mão "Não podem ser informados", determinando sigilo.
Virgílio foi preso pela OBAN – Operação Bandeirantes, órgão de repressão do regime militar, em setembro de 1969. O laudo do exame necroscópico, datado em 30 de setembro, identifica o "cadáver de um desconhecido nº 4059-69" como sendo o de Virgílo. Com base nas impressões digitais, o médico legista Gilberto da Cruz, na época chefe do Arquivo Dactiloscópico, confirma que "trata-se de Virgílio Gomes da Silva, prontuariado sob RG nº 2.080.897 ".
O documento da Divisão de Identificação Civil e Criminal de São Paulo traz as impressões digitais e uma foto de Virgílio morto, com lesões no rosto. Segundo o laudo da autópsia, "o corpo encontrado em local baldio no dia trinta de setembro", sofreu traumas e lesões, concluindo que Virgílio veio a falecer "em conseqüência de traumatismo crânio-encefálico (fratura de crânio)". Apesar de avaliarem que a morte foi causada "por instrumento contundente", os legistas Roberto A. Magalhães e Paulo A. de Queiroz Rocha, que assinam o documento datado de 7 de outubro de 1969, informam que o ex-militante "não" foi morto sob tortura.
Em 4 de setembro de 1969, três semanas antes de ser preso, Virgílio comandara o seqüestro do embaixador norte-americano, Charles Burke Elbrick, no Rio de Janeiro. Militante da ALN – Aliança Libertadora Nacional, e conhecido pelo codinome "Jonas", ele organizara a ação junto com militantes do MR-8 - Movimento Revolucionário 8 de Outubro. O governo aceitou negociar com os seqüestradores. Quinze presos políticos foram libertados e levados para o México em troca da libertação do embaixador.
Os documentos encontrados foram copiados e distribuídos à imprensa em ato organizado pelo grupo não-governamental Tortura Nunca Mais, junto com a família de Virgílio, na sede do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo. A viúva Ilda Martins Gomes da Silva, 73 anos, disse que a família agora quer saber onde estão os restos mortais de Virgílio.