Conselho denuncia 15 mortes por maus tratos nos manicômios brasileiros

25/06/2004 - 18h42

Andréia Araújo
Repórter da Agência Brasil

Brasília – No dia Internacional da Tortura, comemorado hoje (25), o Conselho Nacional de Psicologia denuncia a morte de 15 pessoas vítimas de maus tratos este ano nos manicômios brasileiros. O psicólogo, Eleonir Melo, membro do Conselho, informou que existe atualmente cerca de 52 mil pessoas internadas em hospitais psiquiátricos no país. "Não podemos imaginar que uma pessoa entre em um hospital psiquiátrico buscando tratamento e saia morto", indignou-se.

Para combater a tortura nos presídios, o Conselho lançou hoje a campanha "O Brasil precisa dar um basta à tortura manicomial", que pretende divulgar atos de tortura nos manicômios brasileiros. Um dos depoimentos relatados na campanha é do paciente José Fernandes Xavier encontrado morto por enforcamento, no dia 5 de março deste ano.

Segundo Melo, o tratamento dado hoje nos manicômios, na maioria dos casos, não ajuda no tratamento dos pacientes. "Nos hospitais os pacientes são tratados algumas vezes com uma medicação que os deixam incapazes de agir. Não são considerados como seres humanos", disse.

O tratamento mais adequado, na visão do conselheiro, é a reintegração do paciente à família, com o tratamento fornecido pelos Centros de Atendimento Psicosocial (Caps). Somente em crises agudas, Melo considera a possibilidade de internação.

Caso Real

Aos 58 anos, o ex-paciente Milton Freire tenta apagar da memória um momento triste de sua vida: os dez anos em que passou internado em um hospital psiquiátrico no Rio de Janeiro. Ele conta que foi internado aos quinze anos com uma depressão profunda.

"Eu estava doente, com depressão. Minha mãe havia morrido de depressão. Então me internaram. Quando cheguei no hospital foi um choque. Ninguém falava comigo, nem os médicos nem os pacientes, era como se eu não existisse, se não tivesse alma", contou.

Durante os dez anos de tratamento, Freire relata que foi submetido a choques elétricos e de glicose. "O choque de glicose era quando ele tirava todo o açúcar do nosso sangue e agente entrava em coma. Ficava muito tempo. Quando voltava já não sabia mais de nada". O resultado deste tratamento é que Freire desenvolveu um quadro de esquizofrenia, um distúrbio mental.

Milton Freire conseguiu se recuperar graças ao tratamento dado pela doutora Nise da Silveira, criadora do Museu do Inconsciente. Este tratamento procurou reintegrar Freire a família. Hoje, Freire é membro da Rede Internúcleo do Movimento da Luta Antimanicomial.