Fazendas fiscalizadas em Mato Grosso tinham alta tecnologia e trabalho escravo

21/06/2004 - 16h33

Brasília - Chega a 120 o número de trabalhadores libertados durante ação do Grupo Móvel de Fiscalização e Combate ao Trabalho Escravo em quatro fazendas no interior de Mato Grosso. Depois de ter constatado a presença de 74 bóias-frias em condições degradantes nas fazendas Java e Tucano, a fiscalização detectou mais 46 trabalhadores em circunstâncias semelhantes nas fazendas Reata e Floresta. As propriedades ficam no município de Campo Novo do Parecis, a 400 quilômetros de Cuiabá.

Na sexta-feira (18), depois de terem feito a fiscalização nas fazendas Java, Tucano e Reata, onde foram verificadas apenas irregularidades trabalhistas, os integrantes do Grupo Móvel foram procurados, à noite, por um grupo de 26 trabalhadores que pediu o deslocamento da equipe até a fazenda Floresta, onde foi confirmada a situação precária de outros 20 lavradores.

Os trabalhadores preparavam manualmente a terra para a plantação de soja. Eles catavam as raízes que ficavam no solo após a queimada. O procurador do Trabalho Eder Sivers, que acompanhou a ação ao lado de auditores fiscais e de policiais federais, disse que os integrantes do Grupo Móvel ficaram supresos com o contraste visto nas propriedades.

"Vimos a alta tecnologia que empregam no campo: colheitadeiras e tratores modernos, muitos ainda nem tinham sido usados; mas não dá para entender o tratamento dispensado aos trabalhadores. Eles ocupavam alojamentos improvisados no meio do mato, sem a menor condição de higiene e segurança e sem a possibilidade de deslocamento", informou.

Sivers disse que os responsáveis pelas fazendas concordaram em reparar as irregularidades e indenizar os trabalhadores. Com o dono das fazendas Java e Tucano, identificado como Lívio José Andrighetti, foi firmado Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta (TAC). "Em dois dias, os alojamentos das fazendas foram derrubados e reformados. Agora tem beliches, banheiros e cozinha condizentes". As verbas rescisórias desses trabalhadores podem chegar a R$ 150 mil.

Com o dono da fazenda Floresta, identificado como Valmor Cunha, foram acertados o pagamento da rescisão dos contratos, estimado em R$ 70 mil, e o deslocamento dos trabalhadores para os locais de origem, nos estados do Maranhão e Alagoas.

As informações são do Ministério Público do Trabalho.