Regras diferentes para países desiguais, defende Fórum Civil na Unctad

16/06/2004 - 13h35

André Deak
Repórter da Agência Brasil

São Paulo, 16/6/2004 (Agência Brasil - ABr) - Não há como utilizar as mesmas regras de comércio agrícola internacional para países desenvolvidos, cujas agroempresas são subsidiadas pelo governo, e para países em desenvolvimento que não têm condições de produção adequadas. Essa é a defesa que faz hoje o Fórum da Sociedade Civil (FSC), encontro que ocorre ao lado da 11ª Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento, a Unctad.

O representante do Fórum de Articulação do Comércio Ético e Solidário (Faces), Glayson Soares, explicou que "o comércio injusto é aquele em que se usam regras iguais para desiguais. Quando temos barreiras alfandegárias e um esforço internacional para impedir a entrada de produtos primários – a principal fonte de renda dos países em desenvolvimento – e, ao mesmo tempo produtos mais acabados nos países mais ricos, a situação é injusta".

Soares participa das conferências sobre "Comércio Justo" (Fair Trade), tema de hoje no FSC. "Comércio justo não é a única alternativa, mas já mostrou seu impacto nas economias locais. É possível ter um valor digno pago ao produtor, sustentabilidade ambiental e uma relação justa entre consumidor e produtor", diz.

O Faces tem trabalhado com produtores que já utilizam, de uma maneira ou de outra, o conceito do comércio justo, explica seu representante. "No campo rural, as relações deveriam ser mais igualitárias. Ainda existe uma renda diferenciada entre homens e mulheres - e nós falamos em ética rural, homens e mulheres que ganham o mesmo e têm o mesmo poder de decisão. É claro que isso não acontece da noite para o dia, mas essa é nossa meta: um trabalho global com impacto local".

"Temos sérias críticas ao processo da Organização Mundial do Comércio, a OMC, que não avançou em benefício dos países pobres. A Unctad é uma alternativa de se repensar o comércio internacional em favor do desenvolvimento, e os governos deviam fortalecê-la. Além disso, devíamos ter políticas nacionais para o desenvolvimento das economias locais", afirma Glayson Soares.