André Deak
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – "As Nações Unidas deveriam produzir estudos que mostrassem o resultado de uma política anti-dumping no comércio agrícola mundial", disse o representante norte-americano do Instituto para Agricultura e Políticas Comerciais (IATP), Dennis Olson, à Agência Brasil. "Seria possível então criar um cartel agrícola do trigo, por exemplo, como a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Suas ações seriam baseadas nesses estudos, para nunca deixar cair o preço de certos produtos abaixo de um limite aceitável". A proposta foi feita durante o Fórum da Sociedade Civil (FSC), evento paralelo à 11a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento.
Durante os últimos anos, o preço de produtos como o algodão, o café e o trigo, entre muitos outros, vem caindo em proporções enormes. Nos Estados Unidos, um maiores exportadores agrícolas mundiais , "onde há subsídios para agricultura de US$23 bilhões por ano", conforme informa Olson, "o trigo é vendido pelas multinacionais abaixo até mesmo do preço de custo. Nenhum pequeno agricultor pode suportar isso."
Para tentar impedir isso, uma das propostas levantadas durante o FSC foi que os países em desenvolvimento que fossem grandes produtores de algum commoditie agrícola - o trigo, por exemplo – unissem forças para barrar a produção em caso de dumping internacional. O dumping é a prática de vender abaixo do preço de custo para levar à falência os produtores concorrentes.
Críticas
Aumentar o preço da matéria-prima, entretanto, não levaria a um aumento do preço final dos produtos, na prateleira do supermercado? Os painelistas que estavam no debate sobre dumping norte-americano garantem que não. De acordo com eles, as multinacionais, que são detentoras de boa parte da linha de produção e distribuição, tentam jogar o preço final do produto para o alto e pagar o mínimo possível para os agricultores.
O agricultor francês José Bové, presente na sessão, afirmou que "mesmo que se aumente em 30% o preço dos commodities agrícolas, apenas 2% do preço do produto final será alterado". Dando um exemplo, Olson disse que "se uma caixa de cereais de trigo custasse um dólar, o custo do trigo contido ali seria de apenas quatro centavos. O que encarece o produto é a embalagem", garantiu.