Marli Moreira
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Se os países em desenvolvimento não fizerem um esforço para investir em pesquisa e desenvolvimento, jamais vão ultrapassar a barreira que os separa das nações mais ricas. Essa afirmação foi feita pelo ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, durante discurso em um dos painéis realizados hoje, na 11ª Conferência Internacional das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), no Pavilhão de Exposições do Parque Anhembi. No encontro estavam também o embaixador Rubens Ricupero, secretário geral da Unctad, e o diretor geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Supachai Panitchpakdi.
Amorim defendeu a necessidade de avançar com urgência na agenda negociadora de Doha, principalmente no que se refere ao tratamento especial e diferenciado. "Mas não nos iludamos. Se não investirmos em pesquisa e desenvolvimento, jamais ultrapassaremos a barreira que nos separa das nações mais ricas. Sem nosso esforço individual ou coletivo, conforme o caso, jamais deixaremos a situação de atores marginais no cenário internacional", ponderou.
O ministro salientou que a Unctad é uma oportunidade para discutir parcerias. Nesse sentido, complementou, alianças se formam para que "a rodada de Doha se atenha a seu mandato agrícola e resulte na eliminação dos subsídios agrícolas e na redução substantiva do apoio doméstico que agravam a fome e a pobreza em grandes partes do mundo", a exemplo dos contatos entre os vários segmentos da sociedade civil-empresariado, Organizações Não Governamentais (ONGs), sindicatos e comunidade acadêmica, em debates em torno da promoção social e desenvolvimento. Em sua avaliação, a sociedade civil tem dado importante contribuição para a definição de políticas públicas como, por exemplo, no combate aos vírus HIV, transmissor da aids.
O ministro observou que no ultimo sábado houve uma demonstração de sintonia entre as agendas do G-20, "que conjuga liberalização do comércio agrícola e justiça social e a de ONGs como a Oxfam, a Action Aid e a Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrip)".
Na análise do ministro, "encontros como o da Unctad não podem, evidentemente, substituir a ação efetiva e responsável que cabe a governos soberanos". Observou no entanto que é o seu papel de esclarecer e estimular o debate crítico que leva ao desenvolvimento.
"Nos últimos anos tem-se testemunhado um descompasso entre discursos e defesa de políticas públicas entre os que pregam liberalização comercial e ao mesmo tempo fazem uso do protecionismo, defendem fluxos livres de capitais, mas praticam restrições migratórias, pregam garantias para o investimento externo e restringem o comércio agrícola, advogam o respeito à propriedade intelectual e relegam a segundo plano a proteção aos conhecimentos tradicionais".
O ministro pondera que a volta da "coerência ao centro do debate internacional será uma valorosa contribuição nessa edição da Unctad".