Diretor da OMC alerta que rodada de negociações precisa estar definida até julho

14/06/2004 - 19h46

Marli Moreira
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Supachai Panitchpakdi, alertou hoje que há um risco de desequilíbrio tanto nas negociações bilaterais quanto multilaterais se não for estabelecido até julho o acordo sobre o pacote de normas em torno da rodada de Doha – rodada de negociações comerciais aberta após evento na cidade de Doha, no Catar, em 2001.

Nessa data deverão estar definidas as regras previstas para entrar em vigor em janeiro de 2005. "Não podemos perder essa janela aberta de oportunidades", salientou, fazendo um apelo para que os governantes dos países desenvolvidos e em desenvolvimento reflitam sobre as conseqüências ruins de um fracasso. "E, nesse caso, complementou, os países mais pobres seriam os maiores perdedores".

Em sua palestra, durante a 11ª Conferência Internacional sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), que acontece até a próxima sexta-feira no pavilhão de Exposições do Parque Anhembi, Supachai observou que o marco dos 40 anos da Unctad ocorre justamente em um momento de junção crítica da rodada de Doha.

O encontro anterior, realizado na Tailândia, conseguiu, em sua avaliação, resgatar a confiança no sistema de negociação para ampliar as relações multilaterais, "o que foi muito construtivo" depois da experiência traumática de Seattle (cidade americana onde aconteceu encontro da OMC em 1999, marcado por diversos protestos anti-globalização). Ele manifestou a expectativa de que, nessa reunião, a rodada de Doha seja colocada nos trilhos, fazendo, com essa alegação, coro às declarações do secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan.

Considerando os avanços já obtidos, ele citou que há três anos a Europa se manifestava disposta a reduzir as tarifas, "agora já se fala em eliminá-las". Lembrou que o comércio Sul-Sul, com movimentação anual em torno de US$ 780 bilhões, tem potencial para uma enorme expansão. O diretor da OMC insistiu ainda que o comércio bilateral não pode substituir o comércio multilateral.

Ele informou que desde o encontro da OMC, em Cancun, realizado em 2003, já percorreu mais de 250 mil quilômetros, tendo realizado 11 reuniões com ministros , sendo oito na só na África e seis na América Latina e Caribe, no esforço de definir as negociações, principalmente, as mais polêmicas, envolvendo a pauta agrícola.

Para o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, há chances, sim, de se chegar a um êxito no fechamento de questão sobre o pacote. "Temos uma boa chance de ter o arcabouço de um acordo em julho", estima, acrescentando que algumas questões mais complexas poderiam ainda ter seis meses para serem definidas.