Brasília, 11/6/2004 (Agência Brasil - ABr) - Após sete anos no espaço, a sonda Cassini-Huygens começa hoje a exploração de seu destino: Saturno, o mundo dos anéis, e suas luas mais impressionantes. A três semanas de entrar na órbita do planeta, o segundo maior do Sistema Solar, atrás apenas de Júpiter, a espaçonave fará seu primeiro e único sobrevôo de Febe, um satélite tão estranho, que os cientistas acreditam que seja um objeto capturado pela gravidade de Saturno.
Apesar de a entrada na órbita do planeta, na madrugada de 1º de julho, ser considerada o marco da chegada da Cassini ao destino, o sobrevôo de Febe pode render à missão exploratória - a mais complexa missão interplanetária já empreendida - um começo já repleto de descobertas.
"A data de chegada e a trajetória até Saturno foram especificamente selecionadas para acomodar esse sobrevôo, que será a única oportunidade durante esta missão de estudar Febe de perto", informou em um comunicado o planejador da missão no Laboratório de Propulsão a Jato (LPJ) da Nasa, Dave Seal.
Por quatro anos, a sonda vai explorar um conjunto de objetos celestes que os cientistas vêem como um laboratório de como era o Sistema Solar em seus primórdios. No início do Sistema Solar, uma nuvem de detritos girava em torno do Sol e da aglomeração deles formavam-se os planetas.
Os anéis de Saturno são uma grande nuvem de rochas, que têm do tamanho de um grão de areia à altura de um prédio de apartamentos, cuja interação com as lulas de Saturno é vista como uma reprise do que ocorria no início do Sistema Solar.
Mas não é só nos anéis que a história se repete. Em janeiro de 2205, a sonda européia Huygens, que viajou presa à Cassini, chegará a Titã, a maior das luas de Saturno, considerada um retrato da Terra antes que houvesse condição de a vida se desenvolver, com sua atmosfera repleta de nitrogênio.
Outro exemplo desses retratos do passado é justamente Febe. "Escura e de formato estranho, Febe pode ser um pedaço dos tijolos que formaram alguns dos planetas", disse Bonnie Buratti, cientista da missão.
A desconfiança do cientista é que a lua, com 220 quilômetros de diâmetro, tenha pertencido no passado ao Cinturão de Kuiper, um conjunto de pequenos objetos que está na órbita do Sol, para além de Plutão, que não conseguiram se agregar para formar um planeta. A idéia vem da distância - ela está a 13 milhões de quilômetros de Saturno, quatro vezes mais distante do que o grande satélite mais próximo, Iapetus -, da órbita, inclinada 30 graus e na direção contrária à das demais grandes luas - e até de sua escuridão - Febe reflete ínfimos 6% da luz solar que recebe.
Quando estiver no ponto mais próximo de Febe, às 17h56 (hora de Brasília), a Cassini estará a 2 mil quilômetros da superfície. As últimas e melhores observações de Febe foram feitas em 1981 pela Voyager 2, a desproporcionais 2,2 milhões de quilômetros. (CNN)