Brasília, 10/6/2004 (Agência Brasil - ABr) - No próximo domingo (13), começa, em São Paulo, a XI Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad). Representantes de países periféricos virão ao Brasil discutir formas de acelerar o crescimento econômico e melhorar a distribuição de renda por meio de acordos comerciais. Para dois pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), Leda Paulani e Gilberto Dupas, o debate promovido pela Unctad é louvável, mas corre o risco de não resultar em ações concretas e gerar ainda mais frustração aos povos.
"Na economia global, cada país busca se defender como pode. Os parceiros comerciais são variáveis e ocasionais. Com isso, diferente do que acontece na União Européia, o desemprego no Brasil não preocupa países como o México", acredita Gilberto Dupas, coordenador-geral do Grupo de Análise da Conjuntural Internacional da USP e presidente do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais. "Os fundos de financiamento mútuo podem até ser boas soluções emergenciais, mas não resolvem os problemas estruturais dos países onde os atores econômicos dão as cartas."
Para Dupas e Leda Paulani, os países periféricos devem buscar uma troca de experiências e união mais efetiva em setores como o de controle de capitais. Segundo eles, nos últimos 15 anos, o Brasil passou por um processo de modernização e abertura da economia totalmente voltado para o comércio global. "Ainda assim, vivemos uma década de estagnação", avalia Paulani, professora do Departamento de Economia da USP. "Essa tendência continuará forte se permanecermos nesse contexto de vulnerabilidade em relação ao capital externo."
Para a pesquisadora da USP, a Índia é um bom exemplo de país que estabeleceu regras para a entrada e saída de capitais, manteve uma taxa de câmbio competitiva e soube abastecer reservas em dólar para amortecer choques externos. "Com isso, a economia indiana vem crescendo em taxas que variam entre 6,5% e 7%", afirma Paulani, que cobra uma mudança na postura do governo federal com relação aos investidores externos.
"No início do governo, o presidente Lula tinha capital política para propor um modelo de controle de capital. Não é fácil fazer isso, mas é necessário. Caso contrário, continuaremos a crescer, no máximo, 3% ao ano."