Vítimas de acidentes com motos superlotam hospitais públicos de Recife

04/06/2004 - 9h01

Márcia Wonghon
Repórter da Agência Brasil

Recife, 4/6/2004 (Agência Brasil - ABr) - Os leitos das enfermarias de trauma dos hospitais da Restauração, Getúlio Vargas e Otávio de Freitas nunca estiveram tão lotados de pacientes com lesões incapacitantes, provocadas por acidentes de moto como agora. Somente esse ano, foram registrados 988 atendimentos nas três unidades públicas de saúde, numa média de 15 por dia.No ano passado o número de internamentos nesses hospitais superou 5.000. Não há estatísticas sobre o número de mortos, sabe-se apenas que em 2002 foram 85. Devido à demanda excessiva de acidentados, as cirurgias com datas programadas foram suspensas por falta de leitos.

As vítimas são, na maioria, homens na faixa etária de 18 a 35 anos, sem carteira assinada e com escolaridade média.

De acordo com o médico, Rômulo Gomes, vice-diretor do Hospital Getúlio Vargas, a elevação do número de acidentes com motociclistas é preocupante uma vez que causa impacto ao sistema de saúde pública e gera problemas sociais, já que os doentes normalmente sofrem mutilações, ficam internados por longos períodos e precisam ser afastados do mercado de trabalho, na faixa de maior produtividade.

Ele explicou que os doentes são atendidos por equipes multidisciplinares e consomem medicamentos de última geração. Outro problema, segundo o especialista, é que os motociclistas acidentados representam risco de infecção hospitalar, já que chegam com feridas contaminadas por impurezas do solo e fraturas expostas.

Para minimizar as ocorrências o Detran lançou no mês de maio uma campanha em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde e instituições como ministério público do trabalho, concessionárias de motos e sindicato dos motociclistas.

A idéia é desenvolver ações educativas e institucionais em blitz, empresas de entregas de produtos farmacêuticos, mecânicos e alimentícios além de concessionárias e clubes de motociclismo sobre segurança no trânsito.

Uma das justificativas da classe médica para o aumento da incidência de acidentes é o acordo de trabalho firmado entre entregadores e empresas regido pela produtividade, o que faz com que devido à pressa, os motoqueiros ultrapassem os limites de velocidade, estacionem em locais proibidos, avancem o sinal vermelho e transitem em calçadas.

Dados do Detran indicam que nos últimos 10 anos a frota de motocicletas de Pernambuco deu um salto de 33.381 para 219.970 veículos do gênero. Os condutores habilitados para pilotar as motocicletas totalizam atualmente 291.739 pessoas, representando 29.06% da frota total de motoristas com carteira de habilitação no Estado. No ano passado 37.5227 condutores de motos cometeram algum tipo de infração.