Rafael Gasparotto
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os EUA e a União Européia defendem a redução do mandato da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad) para que ela se torne uma entidade de apoio técnico aos países da África. É o que afirma a coordenadora da Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrip), Iara Pietricovsky.
Segundo a coordenadora, os países desenvolvidos querem direcionar o debate para a Organização Mundial do Comércio (OMC), alegando que é a única instância legítima para discutir questões comerciais. "Eles querem a redução do mandato porque a Unctad é o único organismo multilateral que consegue fazer críticas aos processos de globalização. É a única a dizer que estamos produzindo pobreza no mundo e que este não é o caminho "
Iara Pietricovsky acrescenta que os países em desenvolvimento querem manter as competências da Unctad porque estas críticas permitem negociações com maior legitimidade entre países ricos e pobres. "Este será o cerne do debate em São Paulo", diz a coordenadora, referindo-se a XI Unctad que começa em 13 de junho.
A coordenadora afirma que os governos americano e da Europa estão pressionando pela mudança desde a última conferência, em Bancoc no ano 2000. "Com a mudança do governo americano, a guerra, a militarização e a prioridade da segurança em detrimento dos direitos humanos, é cada vez maior a pressão para que os EUA e União Européia mantenham sua hegemonia em um debate unilateral", diz.
De acordo com Pietricovsky, a revisão do padrão de desigualdade que impera nas negociações comerciais e financeiras internacionais defendida pela Unctad está muito próxima às iniciativas do governo brasileiro, que vem criando fóruns de debate e reconfigurando relações de força no embate comercial. "A constituição do G-20 é um marco do protagonismo da política externa brasileira e tem vínculos muito fortes com o que se defende na Unctad".