Agência Brasil
Brasília - O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Horácio Lafer Piva, pediu ao governo desoneração de investimento e diminuição da carga tributária. Para ele, falta "uma energia vital que possa sustentar um salto quantitativo e qualitativo da economia".
O pedido ocorreu durante debate com o ministro da Fazenda Antônio Palocci e o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, no programa "Diálogo Brasil" feito em cadeia pela TV Nacional, TV Cultura e TVE para mais de 800 emissoras de todo o país.
Para Horácio Piva, o país precisa fazer uma reforma tributária mais profunda "não só por uma questão de perda de competitividade, mas porque foram criados vícios na economia brasileira que não podem se tornar culturas", disse referindo-se à tendência de informalização da economia, que agrava a perda de arrecadação do governo.
O presidente da Fiesp ainda se mostrou incomodado com a perspectiva de crescimento em patamares de 3 a 3,5%. "O que me assusta é que a sociedade brasileira está se acostumando ao fato de crescer 3 a 3,5% nos próximos anos, o que é muito pouco", disse Piva desejando que um patamar de crescimento estivesse em 4,5 a 5%.
De acordo com Armínio Fraga, para o Brasil chegar a este patamar desejado de crescimento anual é preciso aprofundar a reforma tributária e cuidar das questões regulatórias. "O estado não tem recursos para investir em todos os setores que precisam de investimento".
Para o ex-presidente do Banco Central, o governo deve trabalhar em uma proposta de reforma tributária neste ano para levar à discussão no Congresso Nacional em 2005, quando "será a oportunidade de melhorar a qualidade dos impostos e diminuir a quantidade".
Juros
Os dois debatedores comentaram a decisão do Copom de manutenção da taxa básica de juros em 16%. Segundo Armínio Fraga, a decisão do Copom foi acertada e motivada pelo cenário externo "nós temos que lidar com o choque do petróleo e com a alta dos preços de commodites".
Fraga afiançou a política monetária: "eu confio no trabalho que o Banco Central vem desenvolvendo, especialmente porque hoje tem um apoio de uma política fiscal extremamente sólida, difícil e ousada, porque não é fácil não descer às tentações do curto prazo. Esse governo fez muito para gerar clima de confiança no país", disse o ex-presidente do BC, atualmente trabalhando no mercado financeiro.
"A taxa de juros poderia estar passando por uma fase de flexibilização há algum tempo. Eu não vejo nenhum motivo para não haver um pouco mais de ousadia para não utilizarmos um pouco mais o intervalo de metas para criar uma percepção mais positiva", discordou Horácio Piva, indicando que a decisão do Copom poderia ser inclusive de pequena redução de 0,25%. "Acho difícil continuar falando em espetáculo de crescimento com uma taxa de juros reais no nível que nós estamos", apontou.
Conforme o presidente da Fiesp, "a taxa de juros ideal é aquela que possa incluir mais pessoas no mercado interno". Para ele, o país vive uma fase contraditória e os sinais de melhoria estão limitados pela capacidade produtiva que não poderá crescer muito mais. "Nós estamos vivendo dois brasis no mesmo território. Um Brasil é o das exportações, da agroindústria, que vai muito bem e o outro Brasil, do mercado interno, que por falta de renda e de massa salarial reduzida, não consegue aceitar aumentos expressivos de preços". Na lado que vai bem, Piva assinalou, no entanto, que "nós temos gargalos na infra-estrutura que vão fazer o crescimento chegar no teto".
Durante o programa, o presidente da Fiesp ainda criticou iniciativas governamentais e propostas das centrais sindicais de se criar frentes de trabalho para gerar emprego. "O governo deve fugir dessa idéia de frente de trabalho, pois isso é confissão de fracasso. É mostrar que a crise é endêmica".
Reconhecendo que a atividade da indústria não está ruim, Horácio Piva informa que "não há margem suficiente de confiança para investimento". Para ele, a solução para a geração de empregos e para maior confiança empresarial estaria em investimentos governamentais "em saneamento, portos e sistema viários". A retomada de empregos "não pode depender de aquecimento gerado por empréstimos. Não tem comprador".