Brasília, 20/5/2004 (Agência Brasil - ABr) - A redemocratização do Brasil trouxe otimismo para o líder sindical pernambucano José Francisco da Silva, que participa da mobilização nos dez anos do movimento Grito da Terra Brasil.
Neste último trecho de sua entrevista à Agência Brasil, ele admite divergências internas para encontrar um caminho melhor de fortalecimento do sindicalismo no campo. Mas comemora conquistas como os direitos da mulher trabalhadora rural. E a própria eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: "Até a questão da reforma agrária vem avançando."
Confira, a seguir, o trecho final da entrevista:
ABr - Nesse período de luta pela redemocratização, o senhor chegou a encontrar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva?
Silva - Claro. Na época da morte do Wilson (de Souza Pereira, assassinado no Acre), inclusive, fui convidado para um ato em Brasiléia (AC). Teve discurso do Lula, do Jacob Bittar, do Chico Mendes. No final, acabamos tendo de responder juntos a um processo pela Lei de Segurança Nacional. Fomos absolvidos em 1984, quando a redemocratização estava encaminhada.
ABr - O movimento sindical do campo saiu muito enfraquecido da ditadura?
Silva - Não diria isso. O movimento foi sempre tão acertado, firme e claro nas posições que, apesar dos bombardeios, sempre sobrou conquista. Hoje, na Contag, existem divergências, mas não para desorganizar e se dividir. É divergência para encontrar um caminho melhor de fortalecimento. Tivemos várias conquistas: direitos trabalhistas assegurados, previdência social rural com base na contribuição indireta (sai da produção e, não, do trabalhador), direitos da mulher. Até a questão da reforma agrária vem avançando.
ABr - Os dez anos de Grito da Terra contribuíram para esses avanços?
Silva - Com certeza. Basta ver quantas e quantas propriedades desapropriadas. O poder dos latifundiários está enfraquecendo. Os trabalhadores vão se fortalecendo e conquistando a terra. Isso não existia antes. É claro que há desemprego, salário baixo. Mas, se não fosse a organização sindical dos trabalhadores rurais, vários direitos não estariam assegurados. Você vê a dificuldade que as domésticas e o pessoal da construção civil têm. Muita gente do nosso movimento diz que está tudo perdido. Não é bem assim.
ABr - O senhor está satisfeito com o governo Lula?
Silva - Sou otimista em relação a esse governo que ajudamos a eleger. Mas continuo achando que precisamos construir o poder do lado de cá, de baixo pra cima. Cabe à classe trabalhadora cada dia mais fortalecer a sua organização para ganhar espaço dentro do governo. É uma grande conquista ter o Lula na presidência da República. Foi uma conquista da classe trabalhadora. A elite não se conforma em ver um homem a quem falta um dedo, um operário, governando esse país. Agora, as coisas não caem do céu, não. Precisamos cavar o nosso espaço dentro desse governo. Afinal de contas, a direitona continua aí.