Brasília, 19/5/2004 (Agência Brasil - ABr) - O ministério da Justiça fez um levantamento parcial dos processos e inquéritos que envolvem denúncias de tráfico internacional de brasileiras que são levadas para a Espanha, Portugal, Itália, entre outros países, onde são exploradas sexualmente. Foram estudados 36 casos, ocorridos nos estados de Goiás, Ceará, São Paulo e Rio de Janeiro, entre 2000 e 2003. O sociólogo Marcos Colares, consultor do ministério para a pesquisa, afirma que, no Rio de Janeiro, já há um processo em andamento que aponta o envolvimento de 45 servidores públicos, entre policiais federais, militares e civis, além de funcionários da alfãndega, no Aeroporto Internacional, e da Receita Federal, acusados de falsificarem documentos para o embarque das mulheres aliciadas pelo tráfico internacional. As investigações correm sob sigilo e partiram da denúncia de lavagem de dinheiro. Todos os indiciados foram afastados das suas funções. O processo está na fase de apresentação de provas.
Um outro caso investigado ocorreu em Fortaleza, envovendo um espanhol, segundo relato de Marcos Colares. Um casal, durante a tentativa de embarque, alegou viajar com uma criança ao exterior para comprar-lhe um enxoval. A criança, que não era filha do casal, tinha documentos falsos, cujo registro pertencia a uma criança nascida e falecida em Goiânia.
A partir de outras ocorrências, o levantamento constatou que o crime organizado usa a cidade de Goiânia para conectar-se a outras partes do país, caracterizando a prática de tráfico interno.
"Há informações de que vítimas estavam sendo levadas de Goiás para outros estados, ou de que o aliciador tinha residência em Goiás, ou a agência que emitiu a passagem aérea era de Goiânia'', denunciou.
O diagnóstico do tráfico internacional de mulheres para a exploração sexual foi realizado pelo Programa Global de Combate ao Tráfico de Seres Humanos, do ministério da Justiça, em parceria com o Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime.
O Programa pretende capacitar policiais federais, promotores, juízes, defensores públicos e servidores, como diplomatas e funcionários de embaixadas e consulados do Brasil no exterior, para identificar esse tipo de tráfico, que cresce a cada dia no mundo e que já é o segundo tipo de atividade ilícita mais rentável no mundo, movimentando cerca de U$ 9 bilhões por ano. O tráfico de seres humanos desbancou o contrabando de armas e perde apenas para o tráfico de drogas.