Edla Lula
Repórter da Agência Brasil
Pequim - Aço para fabricar carros, aço para construir prédios, aço para fazer cidades inteiras, aço para montar as Olimpíadas de 2008, aço para exportar. A China é o maior produtor de aço do mundo. Em 2003, o país produziu 220 milhões de toneladas de aço, feito nunca alcançado anteriormente por nenhuma região do mundo.
Para dar conta de toda essa quantidade, a China se tornou também um grande importador de matéria prima para a siderurgia. O país importa 30% de todo o minério de ferro extraído no mundo, 31% de todo o carvão e 27% dos produtos siderúrgicos.
Do Brasil, a China importa perto de U$ 2 bilhões nesses produtos. "A demanda chinesa pelo minério de ferro é altíssima, por causa dessa necessidade de produção de aço", comenta Pascoal José Bordingon, gerente de desenvolvimento de mercado da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), desde 1985 presente na China.
Toda essa procura, entretanto, tem preocupado, porque está provocando uma elevação de preços no mercado internacional. O temor é o de que, junto com o petróleo, outro produto altamente explorado na China, haja uma alta globalizada de inflação. Para conter a ameaça, o governo vem adotando medidas de controle, diminuindo o ritmo das construções e escolhendo as
empresas de quem comprar.
Mas isso não preocupa os exportadores brasileiros, que concordam com a atitude do governo chinês, porque o que se pretende é tirar do mercado os especuladores. "Evidentemente, como há uma escassez de minério na demanda, você cria espaços para alguns especuladores operarem. Pessoas que não são do ramo ou que não estão nesse mercado buscam entrar, inclusive alavancando essas posições. Então, o que elas fazem? Elas buscam o dinheiro no mercado financeiro para comprar minério e revender no mercado chinês, que está muito aquecido. Com isso, aumentam os ganhos", diz Fábio Barbosa, diretor-executivo de finanças da Vale do Rio Doce.
"Tem que ser tomada alguma medida de contenção, porque, do jeito que está, vai chegar a um nível absurdo e irreal", completa Paul Liu, presidente da Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico.
Barbosa tampouco teme um possível desaquecimento da economia e conseqüente recuo nas compras da commodity brasileira. "A China continua com a demanda maior e, sem dúvida, podemos atender. Nossos representantes em Xangai nos disseram que a demanda continua grande. Estivemos recentemente na Man Shan, que é uma grande siderúrgica, para inauguração de iluminadores, bobinas a quente e a frio, e soubemos que a demanda por minério de ferro continua forte", comenta.