Brasília, 19/5/2004 (Agência Brasil - ABr) - O subsecretário-geral da América do Sul e negociador da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), embaixador Luiz Felipe Macedo Soares, informou ontem (18) que faltam alguns retoques para se chegar ao organismo e mostrou-se favorável a um consenso entre os países interessados antes do prazo final para implantação do bloco, marcado para janeiro de 2005, para evitar que os negociadores tenham que aceitar contrapropostas de última hora.
Segundo o embaixador, o Brasil, assim como os Estados Unidos, tomou a tempo as devidas providências para reorganizar a negociação, ao perceber a necessidade de retirar temas sobre os quais o país não tinha condições de chegar a um acordo. Ele afirmou que se os 34 países esperarem para negociar no final do prazo estabelecido será inevitável que eles aceitem de última hora as contrapropostas dos demais negociadores, caso contrário não haverá acordo.
"Tentamos criar um balizamento da negociação para poder manter o prazo e ir até o fim da negociação. Em conferências é comum chegar ao último dia do prazo e os delegados virarem a noite até a manhã seguinte, porque não se pode sair de uma negociação alegando que não se chegou a um acordo. Há uma forte aversão dos países de encarar esse tipo de situação porque revela uma falta de fluidez nos entendimentos internacionais", exemplificou o diplomata.
Da parte do Mercosul, as dificuldades das negociações entre Brasil e Estados Unidos estão localizadas, principalmente, na agricultura, setor que o Brasil defende a eliminação dos subsídios. Os Estados Unidos consideram essa negociação difícil e propõem que caso entrassem no Brasil produtos subsidiados da Europa, por exemplo, o governo norte-americano recorreria à prática para competir com os europeus.
Em relação a serviços, o Brasil já assegurou que não tem condições de negociar nada além da aplicação do acordo com a Organização Mundial do Comércio (OMC).
O embaixador Felipe Macedo explicou que a Alca é um organismo de negociação entre 34 países das Américas e por isso se criam dificuldades de negociação. "Sempre é parte de qualquer negociação que as partes envolvidas desejem o máximo. Agora, como essas negociações são muito amplas e complexas e se não forem delimitadas como estamos fazendo, o nível de ambição torna a questão extremamente difícil", argumentou .
Ele ressaltou que seria muito difícil se chegar a uma área de livre comércio sem a participação do Brasil, que possui a liderança no bloco Mercosul, e, comercialmente, é de interesse para os Estados Unidos, que têm iniciado negociações com a América Central e Chile.
Na avaliação do embaixador, a política externa do presidente Lula tem ajudado a avançar as negociações do Mercosul. O governo propôs no ano passado aos países sócios do Mercosul um programa, aprovado na Cúpula de Montevidéu, que prevê um cronograma de ações que inclui o trabalho de integração comercial, o fechamento de uma tarifa externa comum e o aperfeiçoamento aduaneiro. Dentre as medidas em estudo para serem adotadas dentro do Mercosul está a criação de um parlamento comum e de uma moeda comum.
Luiz Felipe Macedo Soares lembrou que a política externa do governo tem incentivado também o avanço das relações com a China. Ele adiantou que no fim de junho o presidente da Argentina, Néstor Kirschner, deverá viajar à China e fechar um acordo-base para a negociação de um acordo no âmbito do Mercosul. A Argentina ocupa atualmente a presidência do organismo.