Paula Menna Barreto
Repórter da Agência Brasil
Recife - Hoje é o Dia da Luta Antimanicomial no Brasil e tanto para o governo quanto para os movimentos sociais, um ponto é comum: os hospitais psiquiátricos, tal como funcionam ou funcionavam há anos, não curam – criam doença. Os ditos loucos internados em instituições decadentes e deprimentes, têm tratamento degradante. Muitas vezes humilhados, nus, deitados no chão dos corredores. Assim foi visto na tarde de sexta-feira o irmão de M.C.G., internado há mais de cinco anos em um hospital psiquiátrico de Recife (PE).
Muitas famílias não sabem como lidar com a situação. A falta de condições financeiras induz pais e irmãos a levarem seus parentes para instituições psiquiátricas. "Uma pessoa a menos em casa é uma boca a menos", diz a psicóloga Jeane Couto, coordenadora de um projeto de reinserção social extra-hospitalar para pessoas com transtorno mental.
Para a família do interno, cuidar dele em casa é praticamente impossível. "Tenho três outros irmãos em casa com problemas, não dou conta", afirma a irmã. Ela vai todos os dias ao hospital, leva iogurte e conversa com o irmão. "Trabalho aqui pertinho e isso ajuda muito, só assim posso ver meu irmão", conta.
O hospital psiquiátrico está às vésperas do fechamento. Segundo a administradora, Bernadete Meira Lins, a verba do Sistema Único de Saúde (SUS) é insuficiente e as exigências do Ministério da Saúde são infinitas. O hospital funciona desde 1986 e já teve quase 200 pessoas internadas. Hoje são 41 homens e 36 mulheres, muitos deles há quase 30 anos na instituição.
Família
O caso do rapaz internado é grave. Ele já teve dois derrames e mal consegue caminhar. Para M.J.G. irmão do interno, o fechamento do hospital vai causar uma série de transtornos para a família. "Estou indignado, amo meu irmão, mas não tenho como cuidar dele em casa", diz. A família também teme pela saúde do irmão no hospital. "Às vezes ele é bem tratado; às vezes, não", conta a irmã.
Os programas extra-hospitalares de assistência ao portador de transtorno mental ainda não são suficientes para atender a população. "A nossa rede substitutiva ainda não suporta a demanda", afirma Jeane Couto, coordenadora do programa Rehabitar, de assistência dia. Hoje existem 525 Centros de Assistência Psicossocial (Caps), em todo o país, segundo o Ministério da Saúde.
Por isso, a meta do Ministério para 2004 é expandir a rede dos Caps, incluir ações de saúde mental na atenção básica, qualificar o atendimento hospitalar e ambulatorial já existente e consolidar o Programa de Volta para Casa, onde o usuário recebe um benefício de R$ 240 mensais ao sair do hospital psiquiátrico.