Especial China 2 - Viagem comemora 30 anos de relações diplomáticas

17/05/2004 - 9h51

Edla Lula
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China coincide com o trigésimo aniversário – a ser completado em agosto – do estabelecimento de relações diplomáticas entre o Brasil e aquele país.

Desde que o ex-presidente Ernesto Geisel, contrariando orientação do Conselho de Segurança Nacional, tomou a iniciativa de estreitar laços com a China, as relações comerciais e de cooperação têm sido tímidas. Só se intensificaram a partir da metade da década de 90. Tempo perdido, nas palavras do presidente Lula que, a pretexto do trigésimo aniversário, quer recuperar o prejuízo. "Não tenha dúvida de que nossa relação está definitivamente consolidada. Em pouco tempo estamos provando que é possível a gente recuperar o tempo perdido nessas relações", diz.

Nesse meio tempo, foi possível construir algumas importantes parcerias, como a produção de satélites de sensoriamento remoto. O programa CBERS (sigla em inglês para Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres), criado ainda na década de 80, já colocou em órbita dois satélites. Durante a visita da comitiva oficial, será assinado acordo para a viabilização dos satélites CBERS-3 e CBERS-4. Brevemente, o projeto irá vender a concessão de imagem sensoriamento remoto do satélite para outros países.

Mais recentemente, em 2001, a Companhia Vale do Rio Doce se uniu à chinesa Baosteel, criando a BaoVale para explorar minério de ferro no Brasil e importar minério de carvão para a indústria siderúrgica nacional. A empresa já está atuando em São Luís (MA), na construção de uma usina de placas de aço avaliada em US$ 1,5 bilhão. "Isso significa o maior aporte de capital chinês fora da China", afirma Roger Agnelli, presidente da Vale. E em dezembro de 2002, a Embraer e a companhia Avic II se associaram para criar a Harbin Aircraft, para montagem de avião na China.

Nestes 30 anos, o Brasil recebeu a visita de dois presidentes, Yang Shangkun, em 1990, e Jiang Zemin, em 1993 e em 2001. Os presidentes brasileiros que já viajaram à China foram o general João Baptista Figueiredo, em 1984; José Sarney, em 1988; e Fernando Henrique Cardoso, em 1995. A visita de Lula também terá o caráter de reciprocidade pela última visita de Zemin.

Mercado

Em 2003, a China se transformou no terceiro maior mercado para o Brasil. O fluxo de comércio saltou de US$ 4 bilhões em 2002 para US$ 6,6 bilhões em 2003. Embora o Brasil seja superavitário, tendo atingido US$ 4,5 bilhões em exportações, representa apenas 1% das compras chinesas. "Esse ano, embora ainda um pouquinho tarde, nós conseguimos tomar a nossa posição estratégica nesse processo de desenvolvimento chinês, mas ainda é muito pouco", aponta o presidente da Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico (CBCDE), Paul Liu, que já está em Pequim. Ele prepara a missão, pelo lado empresarial.

Liu cita o exemplo da própria missão oficial para revelar quais são, na sua opinião, os verdadeiros entraves para o acesso brasileiro ao mercado chinês. "Em qualquer país do mundo, a visita já estaria programada seis meses antes. Desta vez, às vésperas do início da viagem, ainda não havia uma agenda definida. O Brasil não pode ter esse tipo de problema, porque mais uma vez a gente mostra falta de planejamento e perde a confiança", lamenta. E ressalta que atitude idêntica costumam adotar os empresários brasileiros – sem agenda clara ou, muitas vezes, descumprindo o previsto. "Falta de regras e de definições prejudica os empresários chineses, que poderiam ter uma participação mais intensa no diálogo com o Brasil".

Segundo Paul Liu, o interesse dos investidores chineses pelos negócios do Brasil é grande: "Basta abrir um escritório aqui e ter um pouquinho mais de organização para nós conseguirmos espaço". E os espaços estão em todas as áreas, segundo o empresário, que destaca o agronegócio para saciar a carência provocada pelo superaquecimento do consumo e pelas migrações da população do campo para a cidade.