Médica diz que ficou pior depois da tragédia do Palace II

15/05/2004 - 9h13

Brasília, 13/5/2004 (Agência Brasil - ABr) - No dia 22 de fevereiro de 1998, madrugada de um domingo de carnaval, o edifício Palace II, localizado na rua Jornalista Henrique Cordeiro nº 350, na Barra da Tijuca, bairro nobre do Rio de Janeiro, desmoronou. A filha da médica Bárbara Martins passava o carnaval com o pai, que vivia com a segunda esposa e um filho pequeno. Todos morreram.

"Eu achava que eles tinham viajado, eu não tinha nem o endereço porque eles tinham acabado de se mudar. Na manhã de domingo fui comprar o jornal e quando voltei e liguei a televisão vi a notícia. Comecei a telefonar, o telefone obviamente não atendia, e comecei a procurar onde era o prédio. Fui parando nos postos de gasolina do caminho e perguntava onde tinha caído o prédio da Barra. Cheguei lá, fui na garagem e vi o carro do meu ex-marido. Eu tentei fingir que aquilo não era verdade, mas eu já sabia que eles tinham ficado", relembra Bárbara.

A médica não teve acesso ao corpo da filha. Quando os bombeiros faziam as buscas por sobreviventes, o prédio terminou de desabar. As buscas foram suspensas e só recomeçaram no domingo seguinte.

Em relação ao leilão dos bens de Naya e indenização das vítimas, Bárbara diz que se sente envergonhada. "É uma traição, como se ele tivesse tirando as costas do problema. O tempo não apaga o que aconteceu e essa etapa das indenizações é muito dolorida".

O filho mais velho de Bárbara morava no edifício que desabou, mas estava viajando e por sorte escapou. A médica teve no mesmo ano um outro filho, uma tentativa de amenizar a dor da perda da filha e faz terapia desde a época do desabamento.

"Eu mudei completamente e acho que como pessoa fiquei muito pior. Eu tinha mais caridade, mais paciência com o sofrimento dos outros, mais humanidade. Fiquei perdida na minha história. Eu acho que como gente eu era muito melhor. Dizem que o sofrimento melhora, aprimora, mas eu acho que não, acho que a gente fica mais amargo, mais doído mesmo, menos tolerante."