Olga Bardawil
Repórter da Agência Brasil
Fortaleza - Mutambeiras é um pequeno distrito do município de Santa do Acaraú na região norte do Ceará. A população, de cerca de 1.300 pessoas, vive espalhada na extensa zona rural, em casas muito distantes umas das outras. Mas todos se conhecem e se apóiam, como explica Dona Maria Augusta Silva, que ali nasceu e viveu a vida toda. Por isso ela sabe como era Mutambeiras até dez anos atrás, quando "criança morria todo dia de diarréia, as vezes de dois, três num só dia".
A causa, como é comum no sertão, era a água consumida, de uma cacimba localizada às margens do Riozinho, um riacho afluente do Acaraú. Dona Maria Augusta se lembra da luta dos moradores pela água, da pressão sobre os sucessivos prefeitos. Em 1988, a união dos moradores gerou a Associação dos Moradores de Mutambeiras que obteve o primeiro sucesso: um poço profundo perfurado pela prefeitura com uma bomba para fazer a água chegar às esparsas 200 casas do lugar.
"Era uma água ruim de beber e nem sempre vinha", afirma a moradora da zona rural cearense. Para estados pobres como os do Nordeste, o investimento em água e esgoto em comunidades rurais sempre foi um desafio difícil. O custo é alto e o retorno é baixo, o que desestimula o investimento das grandes companhias, mesmo estatais.
Em 1994, no entanto, uma parceria com o Banco da Reconstrução da Alemanha (KfW) garantiu os recursos necessários para implantar em Mutambeiras o Sistema Integrado de Saneamento Rural, mais conhecido pela sigla Sisar e cuja sede no Ceará está instalada em Sobral. O projeto iniciado com sucesso três anos antes, na Bahia, recebeu 11 milhões de euros. Deste total, 9 milhões de euros destinaram-se ao investimento propriamente dito e 2 milhões foram para despesas de acompanhamento do projeto.
Gerenciamento
Além do aporte financeiro, o Sisar introduziu uma forma inédita de gerenciamento, por meio do associativismo. Como explica o gerente administrativo do Sisar em Mutambeiras, Francisco Adauto Alves, é a Associação de Moradores que administra o sistema, por meio de uma coordenação e de um conselho formado por representantes da comunidade.
Tecnicamente, o sistema é semelhante ao das grandes usinas de tratamento. A água é bombeada de um poço profundo para um reservatório, passa por um processo de filtragem e recebe o cloro, tornando-se própria para o consumo. A administração é da competência da própria comunidade, sob a responsabilidade da Associação, o que significa muito para os moradores.
Por isso, Dona Maria Augusta exibe um sorriso satisfeito ao mostrar a água correndo da torneira da pia de sua cozinha: "Sabe lá o que é não ter nunca mais que carregar água na cabeça?"