Especial Ensino 5: São Paulo tem centro de excelência com 75% de empregabilidade

04/05/2004 - 8h59

Marina Domingos
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Um dos marcos do ensino técnico-profissionalizante no país é o Centro Paula Souza, em São Paulo. Foi fundado no final dos anos 60 e começou a crescer no início dos 70, com a valorização dos cursos de "tecnólogos", ou Faculdades Técnicas (Fatecs) até hoje existentes. Somente a partir dos anos 80 a escola passou a oferecer mais cursos técnicos de nível médio e se tornou uma referência para a América Latina.

O Centro trabalha com 16 áreas de profissionalização que vão desde agropecuária, comércio e construção civil até design, indústria, meio ambiente, mineração e saúde. A instituição mantém uma pesquisa atualizada sobre a inserção de seus alunos no mercado de trabalho: consegue empregar 75% deles, na faixa etária de 16 a 24 anos.

Para o responsável pela Coordenadoria de Ensino Técnico (Cetec) do Centro, professor Almério Melquíades de Araújo, a intenção do MEC de oferecer novamente o ensino médio integrado ao ensino técnico "é uma idéia boa, mas temos que analisar cada caso". Segundo ele, é preciso cautela, porque pesquisas mais recentes mostram que a exigência de escolarização aumentou e a idade média de ingresso do jovem no mercado do trabalho subiu para em torno dos 22 anos. O mercado, lembra, exige ainda experiência de trabalho.

"A minha pergunta é: se a idade para começar a trabalhar se elevou e a escolarização exigida também, se eu formar um técnico com 17 anos será que ele consegue emprego? Mesmo que ele tenha boa escolarização e não tenha estágio, se ele não tem experiência profissional, também terá muita dificuldade", pondera ele.

A resposta para essa questão vem do próprio professor, que destaca a parceria entre os ministérios da Educação e do Trabalho e Emprego. "Esta integração é fundamental na discussão da educação profissional", afirma. E acrescenta que não se pode restringir a discussão do binômio educação-trabalho aos jovens. "Nós temos 65 milhões de trabalhadores que não possuem o ensino médio, só o fundamental. É preciso olhar também a educação continuada dos trabalhadores", frisou o coordenador.

Evasão

Os números mostram que metade dos alunos que cursam o ensino técnico no Paula Souza já trabalha – são os da faixa de 18 a 24 anos. Ao final do curso o percentual é mais alto, comprovando a possibilidade de sucesso com a formação técnica para ampliar as oportunidades de emprego. "O processo de evasão, de perda de alunos no ensino técnico vem caindo. Hoje a empregabilidade, associada a um conjunto de competências, deve garantir o processo de aprendizagem contínuo, que é a capacidade de análise, de reflexão, de ter um pensamento lógico saber tratar de dados e informações", ressalta ele.

Do mesmo modo que a profissionalização pode ajudar o estudante a encontrar um emprego, as atitudes pessoais e seu comportamento perante o mundo do trabalho serão decisivos para mantê-lo no posto. De acordo com o professor, o requisito técnico é fundamental para a contratação de uma pessoa, mas se esse trabalhador não souber se relacionar socialmente no ambiente de trabalho, poderá correr o risco de ficar sem a vaga.

"Pesquisas têm diagnosticado que a empregabilidade está associada à formação, à experiência. Entretanto, a demissão, ou melhor, o insucesso profissional, está muito mais relacionado aos valores pessoais, à sua maneira de ser, à forma como o trabalhador se relaciona socialmente no ambiente de trabalho", explica. A dica do professor é aprender a lidar com a "Estética da Sensibilidade", ou seja, a capacidade de também educar a sua própria maneira de ser.