Brasília, 4/5/2004 (Agência Brasil - ABr) - Além de notícias e entretenimento, a TV também traz a publicidade, importante ferramenta de vendas da indústria varejista. Entre os produtos anunciados, muitos podem comprometer a saúde, se consumidos em excesso. Uma pesquisa da USP e da Universidade do Sagrado Coração, publicada na revista da Associação Brasileira de Nutrologia, revela a quantidade e a qualidade dos produtos alimentícios anunciados pelas emissoras de TV aberta: mais de 57% desses alimentos são do tipo gorduroso.
O levantamento foi feito tendo como base a grade das três principais TVs de sinal aberto do país. A programação das emissoras foi gravada pela manhã, à tarde e à noite. As 432 horas de gravação revelam que, durante a semana, os produtos são anunciados com freqüências diferentes durante o dia - à noite, mais anúncios de alimentos são veiculados. E mais: considerando todas as propagandas veiculadas pela TV, mais de 27% delas representam anúncios de algum alimento.
O estudo também revela que os alimentos são mais mostrados durante os dias de semana do que nos sábados, exceto para a publicidade de bebidas alcoólicas, que aumenta significativamente nos períodos da tarde e noite dos sábados.
Quanto à análise da qualidade dos alimentos apresentados, o estudo identificou que, dos 1.395 anúncios de produtos alimentícios veiculados, 57,8% estão no grupo das gorduras, óleos, açúcares e doces. O segundo maior grupo é representado por pães, cereais, arroz e massas (21,2%), seguido pelo grupo de leites, queijos e iogurtes (11,7%) e o grupo de carnes, ovos e leguminosas (9,3%).
"Há completa ausência de frutas e vegetais. A pirâmide construída a partir da freqüência de veiculação de alimentos na TV difere significativamente da pirâmide considerada ideal. Há, na realidade, uma completa inversão, com quase 60% dos produtos representados pelo grupo de gorduras", dizem os pesquisadores no trabalho.
Eles também mostram que o tempo dedicado a se assistir à televisão interfere nos efeitos da publicidade. "No Brasil, adolescentes passam cerca de cinco horas por dia diante da TV. Sabe-se que uma exposição de apenas 30 segundos a comerciais de alimentos é capaz de influenciar a escolha de crianças a determinado produto, o que mostra que o papel da TV, no estabelecimento de hábitos alimentares, deve ser investigado".
O levantamento lembra que hábitos alimentares incorretos podem levar à obesidade, que tem crescido nas últimas décadas, como resultado do aumento de consumo de alimentos altamente calóricos, acompanhados da redução de atividade física. "A obesidade torna-se um problema de saúde pública agravado pelo fato de a TV exercer grande influência sobre os hábitos alimentares e promover o sedentarismo", alertam os cientistas.
"Conhecer como os meios de comunicação influenciam o estilo de vida e, principalmente, o comportamento alimentar é essencial na tarefa de educar, informar e aconselhar os pais a respeito da influência da TV nas escolhas alimentares de seus filhos", afirmam os pesquisadores. Para o estudo, pesquisas como essa podem auxiliar na elaboração de estratégias que possam minimizar os impactos desses resultados sobre a sociedade. (Agência Notisa)