Marcos Chagas e Caio d'Arcanchy,
repórteres da Agência Brasil
Brasília - O sargento da Polícia Militar, João Batista Alves, considera justo um salário mínimo entre R$ 280 e R$ 300. Ele foi um dos doze trabalhadores de Brasília ouvidos pela Agência Brasil nesta sexta-feira, um dia após o anúncio do reajuste do salário mínimo para R$ 260. Destes, 11 acham que o novo valor do mínimo é baixo. "Apesar do arrocho do plano econômico do governo, a gente poderia buscar recurso em outra área para que aumentasse e valorizasse mais o trabalhador brasileiro", pondera Alves.
Opinião semelhante à do sargento tem a doméstica Rosimeire Monteiro da Silva. Ela diz que para sobreviver, este salário mínimo é muito pequeno. "Deveria ter aumentado para R$ 280", acrescentou.
Já o desempregado Bruno Ricardo da Silva considerou um avanço o reajuste do salário mínimo. "Melhorou muita coisa. O Lula fez pelo menos uma coisa boa".
As entidades da sociedade civil estão se organizando para pressionar o governo. Baseadas na insatisfação da população, as entidades vão pedir a revisão do valor do reajuste. A Central Única dos Trabalhadores (CUT), por exemplo, insistirá na adoção de uma política de recuperação do mínimo com aumentos reais significativos. Em nota oficial, a entidade reitera a necessidade de se garantir a recuperação gradual das perdas sofridas nas últimas décadas.
"Queremos que seja implantado – a partir de negociação com empresários, trabalhadores, Executivo e Legislativo – um processo de recuperação para que, em até 20 anos, o salário mínimo atinja o que estabelece a Constituição Federal, de ser capaz de suprir todas as despesas de uma família de cinco pessoas", diz a nota.
Nos últimos dez anos, excluindo 1999, ano da desvalorização do real, o reajuste do salário mínimo foi superior à inflação, mas não o suficiente para aumentar o poder de compra do trabalhador.
Estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-econômicos (Dieese) revela que o mínimo de hoje deveria valer R$ 1.442,46. Valor que seria suficiente para satisfazer a ambulante Francisca Lima Campos. Sobre o mínimo de R$ 260, ela afirma: "achei péssimo porque é muito pouco um salário mínimo para um pai de família sustentar. Tenho dois filhos. Não dá para sustentar com isso".
Como a CUT, a Marcha Mundial de Mulheres, cujas bandeiras são o combate à pobreza e à violência contra as mulheres, promete se engajar neste mês de maio para garantir a revisão do valor do salário mínimo no Congresso Nacional. Para pressionar as autoridades, a Marcha irá enviar cartas aos ministérios do Trabalho e do Planejamento e a deputados e senadores. Segundo Miriam Nobre, da Sempreviva Organização Feminina e integrante da coordenação da Marcha, a entidade quer um salário mínimo de R$ 480 em 2007.