Palco da resistência à ditadura, Matriz de São Bernardo mantém tradição da Missa do Trabalhador

01/05/2004 - 10h00

Brasília, 1/5/2004 (Agência Brasil - ABr) - Há 24 anos, os trabalhadores brasileiros que lutavam contra a ditadura militar encontravam na Igreja Católica um refúgio contra o regime que combatia manifestações políticas públicas. Era 1º de maio de 1980, quando milhares de metalúrgicos se espremiam dentro da Igreja Matriz de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, para fugir do Exército que procurava líderes sindicais contrários ao regime militar. A Missa do Trabalhador, que desde 1978 reúne em São Bernardo metalúrgicos e representantes de sindicatos trabalhistas, até hoje é palco de manifestações de trabalhadores em defesa de direitos dos assalariados de todo o país.

A celebração continua sendo um dos principais elos entre a Igreja Católica e os trabalhadores brasileiros. O atual Arcebispo Metropolitano de São Paulo, Dom Cláudio Hummes, que por mais de 20 anos foi bispo do município de Santo André (SP), lembra que a Missa ainda representa a aproximação da Igreja com as causas trabalhistas. "O objetivo é tornar presente a Igreja entre os trabalhadores, assim com a confiança que os trabalhadores tinham, e têm, com a Igreja - que também possui grande presença entre eles", ressaltou o arcebispo.

Este ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai repetir o gesto que cultiva há 24 anos. Ele estará presente na Missa do Trabalhador, em São Bernardo, palco de seu histórico sindical e político. "É muito importante que o presidente continue mantendo um vínculo com os trabalhadores de São Bernardo e do ABC. É quando o próprio presidente pode entrar em contato com os trabalhadores e com a Igreja que sempre o apoiou", diz Dom Cláudio Hummes.

O arcebispo, ao lado do então líder sindical Lula, atuou de forma direta na luta dos metalúrgicos contra a ditadura, e lembra com carinho dos tempos em que a liberdade, inclusive a religiosa, era controlada pelo Estado. "A primeira missa começou em 1979, celebrada pela primeira vez com os trabalhadores durante a greve em frente ao Palácio da Prefeitura em São Bernardo. Até o cantor Vinícius de Moraes participou dessa manifestação", lembra o arcebispo.

Nenhum episódio do Dia do Trabalhador, porém, está mais presente na memória de Dom Cláudio que a histórica Missa de 1980. "A matriz estava cercada pelo Exército e conseguimos liberação para alguns saírem por trás. Era onde os metalúrgicos se reuniam durante as greves", relata. A Igreja Matriz acabou se tornando, por muitos anos, refúgio para os operários que fugiam do regime militar.