Brasília, 30/4/2004 (Agência Brasil - ABr) - Thiago Rodrigues tem 19 anos e mora numa cidade satélite do Distrito Federal. Ele estava desempregado na época do alistamento militar e via nas Forças Armadas a oportunidade de ascensão profissional. "Todo mundo esperava algo melhor para a carreira, poder se aprofundar nos estudos e ter mais conhecimento. Hoje em dia, o mercado de trabalho está muito difícil", explica Thiago. Assim como a maior parte de seus colegas, ele não foi selecionado para o serviço militar.
Thiago reflete um fenômeno comum nos tempos em que o desemprego atinge 2,7 milhões de brasileiros, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O serviço militar, antes rejeitado pelos jovens de classe média que conseguiam atestados para serem dispensados, agora virou alternativa para a falta de trabalho.
É o que explica o analista de sistemas Ricardo de Morais, que ingressou na carreira com certa relutância, levado pela insistência da mãe. Filho de militar, ele ficou por dois anos no Núcleo Preparatório de Oficiais do Exército (NPOR). Ao final do estágio obrigatório para a carreira de oficial, Ricardo foi dispensado em função de corte de vagas no setor. Segundo ele, a maioria dos jovens que quer entrar e permanecer na carreira militar não é atraída pelas atividades desenvolvidas, mas pela oportunidade de emprego. "Eles querem servir por causa do trabalho, mas poucos conseguem ficar depois de terminado o tempo obrigatório, pois as vagas não são muitas", completa . Ricardo diz que teria permanecido na carreira militar se não tivesse sido dispensado.
No início desta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a proposta de dobrar o número de recrutas incorporados, que passariam a 100 mil. Além do treinamento militar, os jovens vão aprender uma profissão e noções de cidadania. O recrutamento será direcionado aos grandes centros urbanos e às camadas sociais populares. Cozinheiro, operador de microinformática, carpinteiro e auxiliar de enfermagem são alguns dos cursos a serem oferecidos em parceria com o Sesi, Senai, Sebrae e Sesc.
A antropóloga Regina Novaes trabalha com políticas para a juventude e avalia essa iniciativa como positiva. Ela alerta, no entanto, que os bons projetos voltados para os jovens precisam considerar três dimensões essenciais: a escola, a formação profissionalizante e a vivência cultural. "O aspecto cultural se refere à maneira como o jovem brasileiro se enxerga, na compreensão do que é ser cidadão e também na própria expressão artística, um fator importante a ser trabalhado", explica.
STJ - Despertar a consciência democrática é o objetivo do presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Edson Vidigal, ao apresentar ao Exército uma proposta de curso a ser ministrado nos quartéis. Com a temática "O Estado Democrático de Direito", seriam abordados conceitos como democracia, cidadania, direitos e os três poderes da República. Juízes federais podem ministrar os cursos, atuando como voluntários nos quartéis.
Edson Vidigal comenta a importância de se estimular uma consciência legalista, na medida em que a maior parte das pessoas não tem consciência dos seus direitos e do espaço que ocupam no âmbito de uma sociedade democrática. Com relação ao aumento do número de recrutas incorporados, ele destaca a importância da medida no combate à marginalidade. Para o ministro, o ócio que grande parte da juventude brasileira vivencia seria substituído por bandeiras positivas, que explorem o potencial de cada um. Nesse contexto, o conhecimento sobre as leis do país se apresenta como condição indispensável para o exercício da cidadania. "Isso vai fazer com que nós passemos a não ter súditos, pessoas que apenas ouvem ou obedecem, mas cidadãos que ouvem, respeitam, cumprem e também sabem exigir o respeito aos seus direitos", afirma Vidigal.