Brasília, 28/4/2004 (Agência Brasil - ABr) - A pesquisadora Miriam Abramovay acredita que, mesmo com o processo de universalização do ensino, a escola ainda não é um ambiente democrático. Entre outros argumentos, Miriam apresentou, nesta quarta-feira, dados inéditos de sua pesquisa sobre violência nas escolas, no Congresso Ibero-Americano sobre Violências nas Escolas.
Segundo a pesquisadora, o processo de democratização do acesso à escola acaba por colocar em cena desigualdades e heterogeneidades que a instituição não tem conseguido superar. Como conseqüência, o sistema educacional passa a sofrer problemas como a falta de segurança, indisciplina, conflitos e a eclosão de diversas modalidades de violência.
Hoje, o ensino fundamental – com cerca de 35 milhões de alunos – está praticamente universalizado na faixa etária de 7 a 14 anos. No ensino médio, entre 2001 e 2002, a taxa de crescimento das matrículas foi de 3,7%, totalizando 8,3 milhões de alunos no ano passado.
O representante francês do Observatório Internacional de Violência Escolar, Eric Debarbieux, disse que fatores externos são responsáveis por 54% dos problemas de violência nas escolas francesas. A situação social da região onde se localiza a escola, a estabilidade e a formação dos professores são alguns dos fatores que influenciam a qualidade do ambiente escolar.
A pesquisa brasileira revela que quase metade dos alunos (47,7%) considera positiva a relação com seus professores, enquanto o restante se divide entre aqueles que consideram a relação "mais ou menos" (41,5%) e "ruim-péssima" (10,8%). Apesar disso, as entrevistas, segundo Miriam Abramovay, revelam que a relação entre alunos e professores é marcada por várias situações de desrespeito e agressões verbais mútuas, acabando, por vezes, em agressões físicas.
Na França, 23,9% dos alunos afirmaram já ter sofrido agressões físicas e 72,4%, insultos verbais. As vítimas de racismo somam 16,1% e 45,1% dos estudantes já tiveram objetos roubados.
A pesquisa feita, na França, segue a mesma metodologia da pesquisa feita por Miriam Abramovay, no Brasil. Os pesquisadores destacaram a importância desse tipo de estudo que acaba revelando mais do que os dados oficiais.
Segundo Debarbieux, o índice oficial para agressões físicas nas escolas é de 0,3%, isso porque muitos casos identificados nas entrevistas não são notificados à polícia. Nas estatísticas oficiais, as agressões verbais registradas são da ordem de 0,23%; o racismo, 0,01%; e os furtos, 0,11%.