Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O luto tomou conta de Espigão D´Oeste, em Rondônia. Há dez dias, notícias de que um conflito entre índios Cinta-Larga e garimpeiros levou à morte de um número ainda indefinido de homens trouxe à cidade mães, irmãos e filhos de possíveis vítimas. São famílias de todas as partes do país. De São Paulo a Paraíba.
"Cerca de 100 pessoas estão aqui aguardando notícias. Muita gente viajou hoje para Porto Velho, para fazer o reconhecimento dos mortos", conta o motorista Gilton Muniz, um dos representantes do Sindicato dos Garimpeiros de Espigão, município a 80 km da reserva indígena Roosevelt. "Alguns familiares estão em casas de amigos, em alojamentos cedidos pela prefeitura e no próprio sindicato. Todos passam por muita dificuldade."
Cerca de 26 corpos de garimpeiros foram retirados hoje da reserva indígena por dois helicópteros da Polícia Federal. Os mortos devem chegar na madruga desta terça-feira em Porto Velho, transportados por caminhão dentro de 13 sacos de tamanhos diferentes. Pelo avançado estado de decomposição dos corpos, ainda não é possível saber o número exato de homens.
Há uma semana, três garimpeiros foram encontrados nas proximidades dessa área pela PF. Os corpos possuem marcas de tiro e espancamento. Tanta violência trouxe tensão para Espigão D´Oeste. No último sábado, os cerca de 50 índios que moravam na cidade abandonaram as próprias casas com medo da ameaça dos garimpeiros.
De acordo com o comandante da Polícia Militar, subtenente Firmino Aparecido, o domingo e a segunda foram de expectativa, mas também de maior tranqüilidade. "É natural que algumas pessoas pensassem em alguma reação diante de tanta morte", admite o líder sindical, Gilton Muniz. "Mas estamos falando pro pessoal que não adianta querer fazer o mesmo que os índios fizeram. Temos que acreditar na justiça."
A prefeita de Espigão D´Oeste, Lourdes Teresa Rodrigues, conta que a cidade está sem dormir desde o último dia 7 de abril, quando as notícias sobre o confronto e os mortos começaram a chegar. "É um pesadelo", define a prefeita. "Somos um município com poucos recursos. Não está sendo fácil apoiar as famílias. Temos que tirar dinheiro do próprio bolso para dar alojamento e comida."