PUC/PR faz pesquisas inéditas em terapia celular

18/04/2004 - 9h32

Lúcia Nórcio
Repórter da Agência Brasil

Curitiba - O Laboratório de Engenharia e Transplante Celular, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, em Curitiba, está desenvolvendo três projetos considerados inéditos no País, na área de cultura de células e de tecidos de pesquisas: O Núcleo de Células Humanas Produtoras de Insulina, sob responsabilidade do médico Miguel Carlos Riella; o Núcleo de Enxertos Cardiovasculares, coordenado pelo médico Francisco Diniz Affonso da Costa; e o Núcleo de Cardiomioplastia Celular, com o médico Paulo Roberto Brofman.

O projeto do professor Riella refere-se ao cultivo de células especializadas na produção de insulina, localizadas nas Ilhotas de Langerhans, no pâncreas. São três os tipos de células: alfa, beta e delta. A beta é a célula que produz insulina no organismo. Quando falha a produção de insulina, o portador torna-se diabético. Não tem mais capacidade de promover a metabolização de açúcares, carboidratos, lipídios e proteínas. A pessoa passa, então, a depender do consumo de insulina, aplicada, uma ou mais vezes por dia, e, nem sempre, com bom controle.

Em colaboração com laboratórios e pesquisadores do Canadá e Estados Unidos, o médico Riella, criou o laboratório, objetivando implantar o laboratório de cultivo de células das Ilhotas de Langerhans. Depois do cultivo de um número razoável dessas células, obtidas a partir de pâncreas humanos, elas são injetadas no fígado do paciente. Como uma sementeira, elas se fixam ali e passam a exercer a sua função de produzir insulina e, dentro de algum tempo, o paciente não depende mais da aplicação da insulina exógena, pois as células passam a ter comportamento normal.

O projeto de valvas cardíacas humanas é desenvolvido em colaboração com pesquisadores de instituições de Berlim e Londres, e visa melhorar o transplante e valvas cardíacas. De acordo com o médico Francisco Costa, quando o paciente apresenta lesão de valva e precisa substituí-la por valva de porco ou humana, está recebendo um tecido estranho. Naturalmente, o organismo reage contra esse tecido, que pode sofrer rejeição. Nessas condições, significa a troca de problemas, porque a pessoa deixa de ter a doença original, mas é obrigada, pelo resto da vida, a usar substâncias complexas, com efeitos colaterais.

Pelo projeto, a partir de segmento de veia safena do próprio paciente, são isoladas células endoteliais, que revestem internamente os vasos e são de alta complexidade, produzindo numerosas substâncias. Tais células são cultivadas em laboratório, e, quando atingem um número compatível, são implantadas na matriz acelular da valva exógena, a qual teve suas próprias células previamente retiradas, de forma que será repovoada em laboratório com as células do próprio paciente. Essas células vão envolvendo a valva que passa a se comportar como se fosse uma valva do próprio paciente.

Trata-se, portanto, de, num primeiro momento, remover as células existentes na valva de porco ou humana, tornando-a imunologicamente inerte, podendo ser, a seguir, repovoada com as células do próprio paciente.

Para desenvolver o cultivo de células musculares, o cardiologista Paulo Brofman tem acompanhado e participado da evolução da medicina relacionada com a terapia celular em países do Primeiro Mundo, em busca de novas alternativas terapêuticas para doenças cardiovasculares. O projeto procura adaptar células musculares esqueléticas à função cardíaca.

Independente da vontade humana, a célula do coração se auto-estimula para a contração. No Laboratório da PUC/PR, depois de retirado fragmento de músculo da coxa do paciente, é feita a cultura dessas células, as quais são adaptadas para esse tipo de contração automática. Depois, as células são injetadas em áreas lesadas do coração, em decorrência de enfarto, por exemplo, onde as células estão mortas e substituídas por tecido fibroso ou por inflamação.

Isso constitui nova etapa em relação aos transplantes. A primeira fase representou o transplante de órgãos inteiros: coração, fígado, pulmão, com toda a complexidade que representa introduzir um órgão totalmente estranho na pessoa. Agora, leva-se células ao órgão, o que reduz a possibilidade de rejeição. A terceira etapa, em discussão, é a obtenção de células-tronco da mesma pessoa. As células-tronco guardam em si potencial de transformação em várias outras células. Segundo o pesquisador, a partir do momento em que a ciência dispuser de fatores de ativação convenientes para essas células-tronco, é possível produzir órgãos do próprio ser humano, sem qualquer rejeição.