Brasília - O ministro da Cultura, Gilberto Gil, recebeu ontem o projeto Meri Ore Eda, durante visita ao povo Bororo, que vive no sudoeste do estado de Mato Grosso, em dez aldeias de seis reservas indígenas. "Esse projeto simboliza o que é o Ministério da Cultura no Governo Lula. É o projeto que harmoniza a tradição com a invenção. Eu não preciso inventar nada. O povo Bororo já inventou e está nos dando um presente material, que é a construção da nova aldeia", disse o ministro, ao conhecer projeto que busca promover o resgate e a preservação da cultura indígena do sudoeste matogrossense.
O projeto Meri Ore Eda (Morada dos Filhos do Sol), que foi elaborado pelo Instituto das Tradições Indígenas (Ideti) com o objetivo de promover o resgate cultural dos Bororo, prevê a construção de uma aldeia tradicional modelo dentro da reserva do Meruri, no município de General Carneiro, a 110 quilômetros de Barra do Garças.
O trabalho visa recuperar a rica tradição do povo, que vem se perdendo ao longo dos últimos 100 anos de contato intenso com a sociedade e com a missão religiosa. O projeto foi entregue ao ministro por Paulo Mierecureu Bororo, um dos diretores do Ideti, que é uma organização não-governamental criada e dirigida por indígenas de várias etnias.
O encontro de Gilberto Gil com a comunidade se deu em pleno cerrado, exatamente no local onde o projeto será desenvolvido. A localidade fica distante 10 quilômetros da aldeia Meruri, onde atualmente os índios vivem em casas de alvenaria, descaracterizadas de sua cultura. O projeto Morada dos Filhos do Sol prevê a construção de casas, do centro cultural e da aldeia dos visitantes. Todas as construções respeitarão a arquitetura que preserva os fundamentos da tradição cultural Bororo, com adaptações em relação a saneamento, por exemplo.
A partir de junho, segundo Ângela Pappiani, coordenadora do projeto, será possível a construção de 14 casas, que serão "um arquivo vivo e espaço de transmissão do conhecimento para as novas gerações". Oito dessas habitações serão erguidas em madeira e palha trançada, com o baito – casa dos homens – ao centro.
Gente de verdade
Atualmente, a população total Bororo é de cerca de 1.100 indivíduos, divididos em seis reservas: Meruri, Sangradouro, Perigare, Tadarimara, Jarudori e Teresa Cristina. O povo se autodenomina Boe, que quer dizer "gente de verdade". Bororo significa pátio da aldeia ou pátio das danças. A língua falada é da família lingüística Jê. A rica cultura da comunidade já foi objeto de vários estudos, teses, livros e filmes ao longo de mais de um século.
O território tradicional do povo ocupa grandes extensões de cerrado, onde se situam os estados de Goiás, Mato Grosso, até o norte de Minas Gerais, sendo que, nesta última região, as aldeias foram extintas no início do contato com os brancos. O primeiro contato de bandeirantes com um grupo Bororo aconteceu no ano de 1719, quando era intensa a procura de ouro. Naquele período, a nação se dividiu em duas: os bororo orientais, que não aceitaram os brancos, ocuparam o lado oeste do rio Cuiabá, enquanto os ocidentais, unidos aos brancos, começaram a participar da exploração do ouro.
As informações são do Ministério da Cultura