Aumenta número de mulheres atingidas por doenças associadas ao fumo

03/04/2004 - 10h00

Brasília, 3/4/2004 (Agência Brasil - ABr) - Problemas respiratórios e doenças graves como o câncer de pulmão e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) são cada vez mais comuns no sexo feminino, assim, os índices de mortalidade deixam de ser predominantes entre os homens. Pesquisas chamam a atenção das mulheres e atribuem a mudança ao aumento do consumo do fumo.

Mulheres aderem cada vez mais ao tabagismo

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), hoje existem 1,2 bilhão de fumantes em todo o mundo. O Brasil é o quarto maior produtor mundial de fumo atrás apenas da China, Índia e Estados Unidos. Dentre as muitas doenças relacionadas ao tabaco, como tumores na laringe, esôfago, pâncreas, bexiga, entre outros, o câncer de pulmão é um dos mais malignos e mais freqüentes no homem. No entanto, levantamentos recentes apontam que o problema é cada vez mais comum entre as mulheres.

"Sabe-se que cerca de 90% dos portadores do câncer de pulmão são fumantes. Um aspecto preocupante desta constatação é que aumentou em 30% a incidência deste tipo de tumor na mulher nos últimos 15 anos, porém, permanece estável ou em ligeiro declínio entre os homens. Ou seja, isso comprova as conseqüências malignas que o cigarro tem causado à mulher", ressalta o pneumologista da Faculdade de Ciências Médicas de Belo Horizonte, Renato Maciel.

Ele conta que avaliando a prevalência do tabagismo na população adulta dos países em desenvolvimento, de acordo com pesquisa da OMS em 1999, 42% dos homens e 12% das mulheres fumavam. Já, uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) no estado no mesmo ano, investigou adultos acima de 35 anos e demonstrou que eram fumantes 31% dos homens e 21% das mulheres. Ou seja, o número de fumantes homens está em ligeira queda, com aumento entre as mulheres na maioria dos países do mundo, inclusive o Brasil.

Conseqüências

O especialista destaca ainda outros fatores que têm chamado a atenção das autoridades públicas no que diz respeito às conseqüências do aumento do consumo de cigarro entre o público feminino. "Alguns estudos sugerem que o tabagismo antecipa a menopausa de um a dois anos e aumenta a ocorrência de osteoporose", complementa Maciel.

Entre as demais complicações causadas pelo fumo, os especialistas destacam a ação da nicotina na redução do fluxo sanguíneo placentário, ocasionando maior risco de aborto espontâneo e parto prematuro, além de resultar no nascimento de bebês com baixo peso e com maior freqüência de doenças respiratórias. "Além disso, o uso de anticoncepcionais ou tratamento de reposição hormonal em pacientes tabagistas aumenta a incidência de trombose venosa dos membros inferiores, embolia pulmonar e hipertensão arterial", salienta Maciel.

Evidências atuais mostram que pacientes fumantes têm também queda de 40% na fertilidade. E as conseqüências não param por aí. Existem muitas outras diretamente relacionadas ao fumo, em que a mulher deve estar atenta. O tabagismo se associa com o aumento na incidência de doenças como a DPOC, coronariopatias, derrame cerebral e vários tipos de tumores malignos.

A DPOC, por exemplo, está estreitamente relacionada ao tabagismo e os estudos epidemiológicos mostram que 90% dos portadores da doença são fumantes. O problema, muito comum entre os homens, tem aumentado significativamente entre as mulheres assim como acontece com o câncer de pulmão. Para se ter idéia do impacto dessa doença, ela é a quinta causa de morte no país. Acredita-se que existam hoje, cerca de 3,5 a 4 milhões de brasileiros portadores do mal, cuja principal característica é a dificuldade na respiração, sendo a falta de ar o sintoma mais importante.

Como muitas destas doenças graves e crônicas, a DPOC é progressiva e irreversível. No entanto, vários medicamentos têm apresentado resultados satisfatórios no controle dos sintomas e proporcionado melhora na qualidade de vida dos atingidos.

Para Maciel, com a mudança de hábito social e a consolidação cada vez maior da mulher no mercado de trabalho, ela está cada vez mais propensa a desenvolver doenças e outros males, assim como acontece com o homem e o aumento do tabagismo neste público tem contribuído cada vez mais com esse cenário. "É importante as mulheres se conscientizarem dos riscos relacionados ao fumo e evitarem ao máximo a dependência do cigarro", finaliza o pneumologista