Setor público é principal fonte de emprego dos médicos brasileiros

31/03/2004 - 12h39

Brasília, 31/3/2004 (Agência Brasil - ABr) - O setor público é atualmente a principal fonte de emprego para médicos no Brasil. A maior parte trabalha em hospitais públicos e postos de saúde e praticamente não existem médicos desempregados no país. Apesar disso, o médico brasileiro é pessimista em relação ao seu futuro. A maioria afirma que a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) e o sistema de convênios são responsáveis pela deterioração da profissão.

Os dados constam de uma pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) sobre Qualificação, Trabalho e Qualidade de Vida do Médico. Ao todo, 14.405 médicos de todas as regiões do país e especialidades médicas responderam questionários pela Internet durante todo o ano de 2002.

Apesar de ter entrevistado um número significativo de médicos, mais de 14 mil, a pesquisa reflete a opinião de apenas 5% do total de 290 mil médicos existentes no país (número do próprio CFM).

Em linhas gerais, a pesquisa mostra que o médico é mais pessimista em relação ao seu futuro (45,7%) do que otimista (14,7%). Entre as razões para ser pessimista, eles destacam o assalariamento e a incerteza da profissão. O único motivo para comemorar e ser otimista, de acordo com a categoria, é a sua competência profissional.

As questões envolviam características gerais da profissão, como distribuição regional, formação, participação científica, mercado de trabalho, orientação/participação sociopolítica e atitudes frente à vida e valores humanos. Os médicos também opinaram sobre a política de saúde do governo e as condições gerais de saúde da população brasileira.

A implementação do SUS, por exemplo, foi considerada inadequada pela maioria. Na opinião dos médicos, com o SUS diminuíram e/ou pioraram: as condições de trabalho (52,6%); os rendimentos (52,4%); a qualidade dos serviços (47,4%) e a sua organização (40,7%). Somente em dois aspectos teriam melhorado: a cobertura da assistência (50,7%) e o emprego médico (44,8%).

Sobre o Programa Saúde da Família (PSF), os médicos fazem uma apreciação mais positiva. A maioria afirmou que o PSF aumentou o emprego médico (74,6%) e a cobertura da assistência (70%). A qualidade dos serviços, sua organização, os rendimentos e as condições de trabalho se mantiveram no mesmo patamar para 46% dos entrevistados.

A maioria dos médicos também apresentou uma percepção negativa sobre os convênios. Para eles, o sistema diminuiu a liberdade de fixação dos honorários (83,6%), a autonomia do profissional (78%) e, em menor medida, a liberdade de escolha para o paciente (52,3%).

Saúde da população

As condições gerais de saúde da população de sua cidade e/ou região foram consideradas inadequadas (46,2%) pelos opinantes da pesquisa. Um dos pontos fracos destacados pelos médicos é o atendimento às urgências e emergências, considerada inadequada por 49,4% dos entrevistados.

As piores avaliações quanto à saúde da população vieram dos estados da Bahia (72,1%), Maranhão (71,6%) e Pernambuco (67%). As melhores foram de Santa Catarina (19,3%), Rio Grande do Sul (26,9%) e Paraná (27,5%).

Perfil do médico

De acordo com a pesquisa, os que exercem a profissão médica no Brasil são principalmente brasileiros, homens e jovens, sendo que a maioria atua nos grandes centros urbanos. Os profissionais do sexo masculino são 69,8% do total e os jovens com menos de 45 anos, 63,4%. A maior concentração de médicos está nas capitais (62,1%).

Na época da realização da pesquisa, o Brasil contava com 234.554 médicos, ou um médico para cada 725 habitantes. Para os padrões internacionais o número é mais do que suficiente, já que a Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que o ideal é que haja um médico para cada grupo de mil habitantes.

A maioria ainda atua nos estados do Sudeste, como São Paulo (69.697) e Rio de Janeiro (40.956). É muito pequeno o número de médicos que exercem a sua profissão no Norte do país. A menor quantidade é observada nos estados de Roraima (163) e Amapá (254).

As especialidades mais exercidas no país são Cardiologia (9,8%), seguida por Clínica Médica (8,6%), Pediatria (8,5%) e Ginecologia e Obstetrícia (8,2%).