São Paulo, 31/3/2004 (Agência Brasil - ABr) - A polícia de São Paulo faz perícia para descobrir o número de exames realizados por laboratórios que fraudavam resultados de exames clínicos (sangue, urina, Papanicolau, câncer e aids, entre outros). A polícia quer descobrir também o número de kits comprados (para detectar se é compratível com o número de exames feitos) e, principalmente, conhecer as vítimas das fraudes, ou seja, os pacientes que fizeram os exames e tiveram os resultados errados. O Setor de Investigações Gerais da 5ª Delegacia Seccional de Polícia espera que os próprios pacientes entrem em contato com a delegacia.
Segundo o delegado Aloízio Pires Araújo, a polícia iniciou as investigações há um mês, depois de receber uma denúncia anônima pelo correio. Araújo explicou que com o objetivo de economizar, o laboratório Bayer, anexado ao Hospital Santo Expedito, no bairro de Itaquera, recebia as solicitações para os exames, encaminhava ao biomédico que, colhia o material e, baseado nas respostas de um questionário feito com o paciente, elaborava o resultado apresentado. "O material nem ia para análise", disse Araújo.
O laboratório, porém, que atendia associados do convênio Itálica Saúde (com mais de 70 mil conveniados), não possuía estrutura para atender toda a demanda do convênio e terceirizava o serviço excedente, que era realizado pelo SNA Centro de Diagnósticos, em Pinheiros. "Como esse plano de saúde é voltado para as classes mais populares, havia um número alto de consultas e exames e o Bayer não dava conta, então repassava para o SNA que transmitia o resultado oralmente ao laboratório. Este elaborava e entregava o documento final aos pacientes, sempre dizendo que eles estavam bem de saúde", explicou o delegado. Cerca de 2.500 exames eram realizados mensalmente nos laboratórios.
Nos locais onde os laboratórios funcionavam foram apreendidos resultados de exames, relatórios médicos, diagnósticos, requisições e kits para testes de aids vencidos, que serão anexadas ao inquérito policial. O biomédico responsável pela assinatura dos testes, Wilson Antonio Molina, foi preso em flagrante e indiciado por crime contra as relações de consumo, que prevê pena de seis meses a dois anos de detenção. Ele pagou R$ 1.000 de fiança e responderá ao processo em liberdade. "Ele poderá responder ainda por co-autoria, juntamente com o proprietário do hospital, por estelionato e periclitação à vida (exposição da vida ao perigo)", informou Aloízio Araújo.
A Itálica Saúde foi procurada para falar do assunto, mas o responsável pelas informações não foi localizado e nem retornou a ligação.