Gilberto Evangelista
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Na semana em que se completam 40 anos da insurreição militar que depôs o presidente João Goulart, a ausência de manifestações ou declarações oficiais quanto à efeméride dá o tom nos três Poderes. No Executivo, o Ministério da Defesa limitou-se a um manifesto breve em relação à data. Das três forças armadas, apenas o Comando-Geral do Exército emitiu uma "ordem do dia" (comunicado) para seus representantes. No Legislativo, não haverá qualquer programação oficial. O sistema de rádio e televisão da Câmara dos Deputados e do Senado Federal apresentam documentários sobre a data. No Judiciário, unicamente, a TV Justiça deve exibir em sua programação um documentário sobre o tema.
Criado em 1999, o Ministério da Defesa representa as Forças Armadas brasileiras em um único órgão. Sua função é otimizar o sistema de defesa nacional. Por conta de compromissos oficiais, segundo sua assessoria, o ministro José Viegas não pode conceder entrevistas no decorrer da semana. Por meio da assessoria, ele emitiu a seguinte nota, referente aos 40 anos da insurreição militar no Brasil: "A sociedade brasileira reconhece o respeito incondicional das Forças Armadas ao poder político emanado das urnas, aos Direitos Humanos em todas as suas dimensões e à Justiça, assim como o seu propósito de trabalhar, com serenidade, em prol da defesa e da soberania do país e em apoio à inclusão social e à construção de uma nação mais forte, mais homogênea e mais solidária".
Segundo a assessoria de imprensa dos Comandos da Marinha e Aeronáutica, não foi preparado nenhum comunicado ou solenidade para relembrar a data. Como afirmaram os órgãos, há muito tempo que eles deixaram de se pronunciar sobre o assunto, por meio de suas "ordens do dia", o comunicado utilizado pelo Comandante-Geral de alguma das forças quando quer se dirigir a seus subordinados. Apenas o Exército, desde a semana passada, divulgou a sua ordem, por meio do seu endereço eletrônico na internet.
O Comandante do Exército, general Francisco Roberto de Albuquerque, inicia seu comunicado lembrando aos representantes da força a canção do soldado: "A paz queremos com fervor. A guerra só nos causa dor". Relembra ainda que seus antepassados agiram como as circunstâncias do momento exigiram. Em relação aos quarenta anos da insurreição militar, a nota deixa claro como o soldado brasileiro deve vislumbrar a data: "Veja o 31 de março de 64 como uma página de nossa História, com o coração livre de ressentimentos. Homenageie esse fantástico povo brasileiro, exemplo da gente pacificadora, que conquistou a convivência harmônica e busca, otimista, o bem comum. Gente que também anseia por mudanças obtidas com segurança e apoiadas no respeito ao próximo".
Documentários
A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, representantes do poder Legislativo, até o final da tarde de ontem, não tinham reservado em suas agendas espaço para solenidades ou seções especiais sobre os 40 anos da insurreição de 1964. Ficou a cargo de suas rádios e televisões a cobertura do tema em seus noticiários.
A TV Câmara, além de exibir reportagens especiais para suas duas edições diárias de telejornal, preparou um documentário que estréia hoje, às 22 horas, e continua nos dias 14 e 28 de abril, no mesmo horário. "Contos da Resistência" terá lançamento e pré-estréia às 19 horas, no plenário da Comissão de Constituição e Justiça – CCJ. A película divide a história da insurreição militar em quatro episódios. O enfoque é sobre os movimentos que fizeram resistência aos militares e como eles contribuíram para a construção da democracia atual no país. O documentário revela, ainda, como o Congresso Nacional foi um núcleo de resistência e caixa de ressonância dos desejos dos governantes nos vinte e um anos de regime militar. Entre os entrevistados estão pessoas que viveram aquela época, tais como: Alberto Dines, Dom Paulo Evaristo Arns, Ziraldo, Sérgio Cabral e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
No dia 03 de abril, às 16 horas, a TV Senado estréia o programa Senado Documento. Nesse primeiro episódio será exibido um documentário especial sobre os 40 anos da insurreição militar de 64. O filme traça um cenário político, econômico e social desde o governo JK, passando pela renúncia de Jânio Quadros e a deposição de João Goulart. Jornalistas, políticos, militares, religiosos e empresários somam 34 personagens da época que foram ouvidos pelos diretores do documentário, César Mendes e Chico Sant’Anna.
O Supremo Tribunal Federal é o guardião maior da Constituição desde a instauração do regime republicano no país. Em três momentos diferentes sofreu a intervenção do poder executivo no exercício de suas funções. O primeiro foi em 1891, no governo do Marechal Floriano Peixoto. O segundo na década de 1930, com o presidente Getúlio Vargas. E o terceiro em 1964, com a intervenção militar no Brasil. Para retratar esses três períodos, a TV Justiça lança o documentário, "As Chaves da Democracia – A resistência do Supremo Tribunal Federal em Tempos de Opressão". Assim como os outros Poderes, o Judiciário, por meio da sua mais alta representatividade, o STF, também não planejou nenhuma solenidade oficial para relembrar um dos anos mais importantes na história do país: 1964.
A Radiobrás, em seu especial "O Brasil Interrompido", apresenta depoimentos sobre a época de diversas autoridades, incluindo o presidente do Senado, José Sarney, o ministro do STF Sepúlveda Pertence e o presidente eleito do STJ, Edson Vidigal.