Recife, 31/3/2004 (Agência Brasil - ABr) - Os ex-governadores Waldir Pires, da Bahia; Miguel Arraes, de Pernambuco, e Seixas Dória, de Sergipe, exilados durante a ditadura militar, narraram hoje suas experiências no período do golpe militar de 1964, no seminário da Fundação Joaquim Nabuco.
O ex-governador Waldir Pires, exilado no Uruguai e na França, retornou ao Brasil em 1970 e atualmente é corregedor geral da União. Ele contou que na época do golpe era consultor geral da República do governo do presidente João Goulart, mas que nunca se inscreveu no Partido Comunista por não compactuar da idéia de que pode se chegar à igualdade perdendo a liberdade.
"Quando o golpe se deu eu exercia o controle dos atos administrativos acompanhando e orientando formas adequadas para o desafio de implantar as reformas de base", disse.
"As sete da manhã eu tinha ido dar aulas na universidade. Ao sair recebi um telefonema falando sobre o ocorrido. Fui ao Palácio. O presidente da República estava no Rio de Janeiro e só chegou em Brasília às 14 horas. Ele morava na granja do Torto. Nos reunimos lá, inclusive com Tancredo Neves, que era líder do governo. Às 18h, o presidente João Goulart anunciou a nação que estava deixando Brasília para ir ao Rio Grande do Sul. Darcy Ribeiro e eu ficamos defendendo a ordem constitucional".
O ex-governador Miguel Arraes, exilado na Argélia, disse que "se a ditadura prendeu, torturou e assassinou, cometeu um crime maior calando o povo e passando uma esponja na história para que as novas gerações não tomassem conhecimento dos fatos".
Disse que a esquerda brasileira se dispersou e que é preciso unir forças para resolver os problemas do país e construir uma grande nação.
Já o ex-governador de Sergipe, Seixas Dória, de 89 anos, que foi fundador da frente parlamentar nacionalista, esteve preso em Fernando de Noronha, contou que foi raptado e conseguiu sobreviver graças à cobertura da imprensa brasileira, que desarmou os militares.
Ele ressaltou que acredita no discurso do ex-presidente Ernesto Geisel, que disse não ter havido revolução e sim um movimento armado para derrubar João Goulart. "Revolução se faz por idéias, o que aconteceu foi perseguição a milhares de brasileiros que tiveram seus direitos cassados", afirmou.