Representante da Unesco diz que melhorar o uso da água é investimento e não gasto

25/03/2004 - 13h52

Brasília, 25/3/2004 (Agência Brasil - ABr) - Metade da população mundial – cerca de 2,9 bilhões de pessoas – não dispõe de serviços de saneamento. A falta de acesso à água potável atinge 1,5 bilhão de pessoas. Para mudar essa situação, o coordenador de Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) no Brasil, Celso Schenkel, defende que é preciso pensar nas soluções como investimento e não como gasto.

Aproximadamente cinco milhões de pessoas morrem, anualmente, em conseqüência do uso de água contaminada. No Brasil, cerca de dois terços das internações hospitalares também são causadas pelo mesmo problema. Esse é um dos custos sociais da atual relação humana com os recursos hídricos.

Uma das metas do milênio, estabelecidas pelos países integrantes da Organização das Nações Unidas (ONU), é que o número de pessoas sem acesso à água potável e saneamento seja reduzido à metade até 2015. Para isso, seria necessário que a água encanada chegasse a 300 mil pessoas por dia, e o saneamento a 500 mil.

Segundo Schenkel, um novo conceito que tem surgido nos debates e ações relacionadas a essa questão é a criação de uma nova ética no uso da água. "Um dado interessante é que os países que têm, às vezes, a menor oferta de água têm uma água de melhor qualidade, e isso mostra um comportamento ético", afirma.

O coordenador explica que essa ética não se resume apenas a medidas contra o desperdício de água dentro de casa. "Além da mudança de atitude e comportamento individuais, é preciso investir em tecnologias mais avançadas", afirma Schenkel.

As novas técnicas disponíveis na agricultura, por exemplo, permitem ao produtor rural melhor gestão da água à medida que ele sabe antecipadamente qual a necessidade real em sua plantação. "Isso traz uma economia de escala muito interessante porque baixa o preço dos alimentos, que tem a ver com o combate à fome", exemplifica Schenkel.

No Brasil, o coordenador de Meio Ambiente da Unesco destaca que um dos maiores avanços tem sido no setor industrial. Em algumas empresas, o reaproveitamento da água chega a quase 100%. Na cidade de São Paulo, 30% da água utilizada já são reciclados. Mas Schenkel alerta que o país tem características muito diversas, tanto em oferta de água quanto na gestão desse recurso. "O que se busca é difundir essa prática, fazer com que as pessoas percebam que isso não é um custo, é um investimento em qualidade de vida", defende.