Fausto Zero, criador da heroína romântica, é encenado em Curitiba

22/03/2004 - 11h05

Curitiba, 22/3/2004 (Agência Brasil - ABr) - "Ah, estudei até a exaustão a filosofia, a medicina e a jurisprudência. E infelizmente também a teologia. Tudo com a maior paciência. Mas eis-me aqui, pobre ignorante, não mais sabido do que antes". Estes são os primeiros versos de "Fausto Zero", drama do escritor alemão J. W. Goethe. Nele, o protagonista Fausto, após essa constatação, decide vender sua alma ao diabo em troca de mais conhecimentos e sabedoria. A história foi escrita entre 1773 e 1775 e é agora encenada no Festival de Teatro de Curitiba.

O desespero acontece no momento em que Fausto percebe que as ciências não respondem a todos os questionamentos. Para o diretor do espetáculo, Gabriel Vilella, são justamente as perguntas não respondidas que fazem com que a história seja atual. "De onde vim? Para onde vou? A tecnologia avança, mas a angústia permanece porque continuamos sem respostas. É por isso que Fausto continua fascinando".

O drama virou comédia pelas mãos de Gabriel Vilella. O diretor mantém o estilo do texto do escritor alemão, que se caracteriza por cenas curtas e uma narrativa de cortes ágeis. "Não tem uma narrativa linear, uma cena não está ligada à outra. Mas não são fragmentos, são completas, acabadas. É o estilo de ruptura que nos interessou", diz o diretor.

A história é tão conhecida na literatura mundial que a cena do pacto foi cortada do espetáculo. Fausto, interpretado pela atriz Walderez de Barros, se apaixona por Margarida (Vera Zimmerman). Ela engravida e, após dar à luz, afoga a criança. É presa e enlouquece. Fausto quer salvá-la, mas é obrigado a ir para o inferno.

Em "Fausto Zero", Goethe cria o padrão da heroína romântica, que é usado até hoje. "É o movimento de um grande gênio que desenhou a planta baixa, parece que Deus deu um espirro e pingou na cabeça de Goethe", entusiasma-se o diretor.

Goethe escreveu Fausto aos 26 anos de idade, época do pré-romantismo alemão em que o teatro de fantoches era o mais popular no país. No início da versão teatral brasileira, os atores brincam com a questão colocando em cena um "fantoche humano".

O drama foi traduzido para o português por Christine Röhrig e lançado, em 2001, pela editora Cosac & Naify. O livro ainda não está no mercado.