Camila Cotta
Repórter da Agência Brasil
Brasília, 19/3/04 (Agência Brasil - ABr) - A humanidade sempre considerou a água um recurso infindável. Hoje, seu mau uso, aliado à crescente demanda, vem preocupando especialistas e autoridades no assunto, pelo evidente decréscimo de oferta em todo o planeta. No ano que o tema da Campanha da Fraternidade é "Água, fonte de vida", os brasilienses têm muitos motivos para comemorar, e outros para pensar sobre a água na região. Vários programas de preservação, racionalização e monitoramento da água estão em implementação pela Universidade de Brasília (UnB) e pela Universidade Católica de Brasília (UCB), como meio de melhorar a qualidade de vida dos habitantes da capital federal.
A UCB tem um programa de educação ambiental que abrange a racionalização do uso da água no campus. Essa atividade foi implantada com o objetivo de reduzir o consumo de água na instituição e reaproveitar a água da chuva. "A racionalização da água prevê a instalação de torneiras automáticas, descargas sanitárias com um menor volume, reaproveitamento da água ministrada para regar jardins e uma série de orientações aos funcionários de como utilizar corretamente esse recurso sem desperdício", explica Genibaldo Freire, doutor em ecologia e professor da Católica.
Segundo ele, o projeto é executado pela reitoria de extensão em parceria com diversos cursos e áreas afins da universidade, e o próximo passo será a construção de um grande tanque subterrâneo para guardar a água da chuva. "O volume de chuva é muito grande, talvez superior a 100 mil litros", relata.
Já a UnB desenvolve um projeto de monitoramento das águas do Distrito Federal que tem a parceria do governo do DF, da Secretaria de Meio Ambiente e da Companhia de Águas e Esgotos de Brasília (Caesb). O objetivo é avaliar a qualidade de água na capital federal. Técnicos da UnB são responsáveis pela análise dos materiais coletados. "São vários os aspectos a serem avaliados, um deles é a qualidade de água que é servida a população pela Caesb. Esse projeto é realizado com base nos determinados níveis de qualidade apresentados pela própria legislação brasileira", observa Geraldo Boaventura, professor de química da UnB.
O programa de cooperação técnica é para o desenvolvimento de pesquisas das bacias hidrográficas do lago Paranoá (Descoberto, Santa Maria, Corumbá e São Bartolomeu); avaliação suplementar da qualidade de água distribuída a população do DF; e capacitação de técnicos da Caesb nas áreas de saneamento básico e controle ambiental. A UnB fornece a área de formação do pessoal, o apoio laboratorial e a pesquisa da qualidade da água.
Para o monitoramento da água são determinados 33 parâmetros físicos, químicos e microbiológicos de qualidade da água em análise em laboratório. Desses 33, nove compõem o índice da qualidade das águas (IQA), que são: oxigênio dissolvido (OD). Demanda bioquímica de oxigênio (DQO), coliformes fecais, temperatura da água, pH da água, nitrogênio total, fósforo total, sólido total e turbidez.
Segundo Boaventura, durante os procedimentos de transporte e armazenagem da água podem ocorrer problemas de contaminação. Por isto os técnicos vêm trabalhando na orientação da comunidade sobre como proceder em casos de contaminação, evitando que essa água seja consumida de maneira inadequada.
"Queremos avaliar, também, a qualidade de água no Lago Paranoá, uma importante área do ponto de vista de lazer e que tem uma história ligada à cidade de Brasília. Como o lago foi feito no início da construção da cidade, ele recebeu - durante muitos anos - o lançamento de esgoto doméstico, o que não mais ocorre. Precisamos saber quais os tipos de alterações ocorreram em função desse despejo e das ações predatórias do passado. Queremos avaliar sua condição atual e o que devemos fazer para continuar a preservá-lo e mantê-lo sob boas condições no futuro", destaca Boaventura.
O trabalho consiste no detalhamento para a identificação de todos os fenômenos e processos que estejam acontecendo no lago Paranoá, no sentido de desenvolver mais projetos e a produção de pesquisas, garantindo assim a preservação para o atendimento a população.
Segundo o ecologista, o Paranoá passa por um processo de despoluição, ação para dar a água balneábilidade e não representar perigo de contaminação. "É sempre bom ficar atento ao mapeamento que a Caesb disponibiliza periodicamente informando os locais apropriados para tomar banho. Há alguns pontos que ainda têm um grau elevado de agentes biológicos que podem comprometer a saúde das pessoas", salienta Freire.
Projetado com o objetivo de equilibrar a umidade do ar, para recreação e paisagismo, o lago Paranoá foi uma das primeiras obras da nova capital. Sua formação começou com o represamento do rio Paranoá, em 1956, e concluído três anos depois. Só em 1961 o Paranoá abraçou toda cidade, alcançando a cota 1.000, formando um espelho d'água de mais de 40 km². Mas Brasília cresceu e os problemas da cidade escorreram para o lago. Os aterros das margens e o forte assoreamento foram responsáveis pela redução de 2,3 km² de sua superfície.
O lago transformou-se em diluidor de esgotos, na medida em que os efluentes tratados das Estações de Tratamento de Esgotos (ETE) existentes na Bacia do Paranoá são nele despejados. Depois da tragédia ecológica do final dos anos 70, quando o lago apresentou um grande florescimento de algas do grupo das verde-azuladas - que causou forte mal cheiro na cidade por dez dias - institucionalizou-se um programa de trabalho objetivando controlar e eventualmente reduzir os processos de eutrofização em desenvolvimento na área.
Em 1993 entrou em operação a ETE Sul e, em 1994, a ETE Norte, ambas empregando o que de mais moderno existe em tratamento de esgotos e remoção de nutrientes, com vistas a permitir que o próprio ecossistema do lago tivesse condições de recompor as suas condições originais. Passados 10 anos, o lago Paranoá apresenta sinais evidentes de uma recuperação ambiental que, pensam os técnicos, não se pode garantir se irá persistir. Até mesmo porque, lembram, ainda são poucas as informações disponíveis quanto à recuperação de ambientes aquáticos tropicais.