Manifestações em todo o mundo lembram um ano da invasão do Iraque e pedem paz

19/03/2004 - 16h48

Marli Moreira
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - Pelo menos cinco mil pessoas são esperadas para o ato público que ocorrerá, amanhã, dia 20, às 14h, no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), por conta do Dia Mundial de Mobilização Contra a Guerra. Do local sairá uma marcha pela avenida Paulista no sentido Paraíso-Consolação, retornando ao ponto de origem após três paradas. Nesses locais, os vários movimentos sociais que estarão à frente da passeata vão expressar palavras de ordem em torno dos temas: transgênicos, política econômica e a militarização como instrumento de dominação econômica.

A manifestação, que é uma das várias outras do gênero previstas para acontecer em várias partes do país e do exterior, está associada ao aniversário de um ano da invasão das tropas norte-americanas no Iraque. A iniciativa começou a ser planejada durante o 4 º Fórum Social Mundial (FSM), realizado em Mumbaí, na Índia. Na cidade de São Paulo, o ato está sendo coordenado pelo Comitê Estadual Contra a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) em um trabalho conjunto com outras entidades sociais como Campanha Jubileu Sul, Sindicato dos Advogados de São Paulo, Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).

Caravanas vindas do interior paulista e da Grande São Paulo deverão engrossar o ato, trazendo manifestantes de cidades como Campinas, Guarulhos, São Bernardo do Campo, Diadema, Sorocaba e Franco da Rocha. Acontecimentos semelhantes também ocorrem em Presidente Prudente, São José dos Campos e Ourinhos. Em Campinas, haverá uma concentração popular, no Largo do Rosário, às 10h. De lá, os simpatizantes da causa deverão seguir para a capital paulista.

Alerta

De acordo com os organizadores do evento, a marcha na avenida Paulista tem como objetivo principal alertar a sociedade sobre a necessidade de lutar pela paz mundial e de combater cada vez mais os "efeitos maléficos" da política de militarização voltada, em especial, aos atos do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. Mas, outros temas fazem parte, como a questão dos transgênicos, desemprego, dívida externa e a polêmica sobre os reais interesses da formalização do bloco regional Alca.

O presidente do Sindicato dos Advogados de São Paulo e membro da Coordenação dos Movimentos Sociais, Ricardo Gebrin, observa que a invasão americana no Iraque é resultado de "uma postura beligerante com impactos desastrosos no mundo, estimulando o terrorismo como esse que aconteceu na Espanha". Ele se refere-se ao ataque, ocorrido, no último dia 11, em Madri, cujo total de mortos já subiu para 202 incluindo um brasileiro, Sérgio dos Santos Silva.

Na opinião de Gebrin, a ocupação no Iraque aconteceu muito mais com o propósito de dominar áreas essenciais para o crescimento econômico americano, como o petróleo, do que pela justificativa dada publicamente, de se neutralizar o regime ditatorial daquele País. "E não é por outro motivo", continua, "senão o de consolidar a sua preponderância sobre as demais nações, que Bush ordenou o envio de tropas ao Haiti".

Gebrin afirma existirem pressões do governo americano para que seja colocado, novamente, em discussão no Congresso Nacional, o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas Brasil/EUA, para lançamento de satélites, a partir do Centro de Lançamentos de Alcântara, no Maranhão. As tratativas que vinham sendo articuladas durante a gestão do ex-ministro de Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardemberg, no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ficaram paralisadas no Congresso. Segundo Gebrin, o Brasil e a Venezuela são os únicos países de posição estratégica na exploração da Amazônia que ainda vem resistindo à implantação de bases militares dos Estados Unidos.

Para Guilhermo Denaro, membro do Comitê Estadual contra a Alca, o povo tem de estar alerta. "Quem pode garantir se amanhã ou depois não surja aí uma luta armada contra Fernando Beira Mar?". Para ele, esse tipo de iniciativa poderia propiciar um ataque ao Brasil. "A indústria armamentista norte-americana não tem escrúpulos, não respeita a vida e nem a soberania", conclui. Ele assinala como exemplo o fato de os Estados Unidos não terem ratificado o Tratado de Kyoto.

Em nota divulgada pela Centra Única dos Trabalhadores (CUT), em sua agência de notícias, a entidade destaca que "as mentiras produzidas pela inteligência dos governos americano e inglês foram desmascaradas ao longo dos meses, demonstrando, na prática, que os objetivos militares da aliança anglo-saxônica não era o desarmamento do Iraque. Após intensa busca da possível máquina de guerra iraquiana, foi comprovado o que a ONU já havia anunciado mesmo antes da guerra: não há armas biológicas, química ou atômica no País, como afirmavam Bush e Blair, mas tão somente a necessidade imperialista do controle definitivo do petróleo naquela região, a começar pelo Iraque".