Camila Cotta
Repórter da Agência Brasil
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Brasília 19/03/04 (Agência Brasil – ABr) – A água é um recurso natural de valor econômico, estratégico e social, além de ser essencial para a existência e bem-estar do homem e a manutenção dos ecossistemas do planeta. Apesar de aparentemente a Terra dispor de uma enorme quantidade de água, quase 97% estão represadas nos mares e oceanos e cerca de 2% congeladas nas regiões polares. Apenas 1% está efetivamente disponível para o consumo humano, a irrigação e o uso industrial.
A água potável é um bem comum da humanidade. O acesso a este bem foi declarado pelo Comitê das Nações Unidas para os Direitos Econômicos, Culturais e Sociais como um direito humano, já que é fundamental para a saúde. É indispensável para ter uma vida saudável, com dignidade, e pré-requisito para os outros Direitos Humanos.
Atualmente, o ser humano utiliza 54% da água doce acessível dos rios, lagos e aqüíferos. Se for mantido o ritmo atual de utilização, dentro de 25 anos a humanidade absorverá 90% da água doce disponível no planeta, deixando apenas 10% para as outras espécies.
A água é um recurso renovável pelo ciclo natural de evaporação da chuva e distribuído na superfície terrestre. Ela surgiu de reações químicas que resultaram em uma camada gasosa no planeta durante as primeiras fases de sua formação. Foi na água que, há cerca de 3800 milhões de anos, surgiu a vida na Terra. Ao longo de milhões de anos, os seres vivos evoluíram e espalharam-se pelos oceanos e continentes.
Mas a intervenção humana tem afetado de forma dramática esse sistema de renovação dos recursos hídricos. Estima-se que 30% das maiores bacias hidrográficas perderam mais da metade da cobertura vegetal original, o que levou à redução da quantidade de água. Nove de cada dez litros de água utilizados no terceiro mundo são devolvidos à natureza sem nenhum tipo de tratamento.
Por conta dessas e outras ações, o conceito de água tem mudado muito. Passou da dádiva inesgotável e gratuita para a mercadoria, com preço estabelecido segundo recomendação do Banco Mundial. Tornar a água mais cara é uma das providências necessárias para garantir o abastecimento no futuro, dizem os técnicos.
Nos países industrializados, a perda de água é causada por sistemas obsoletos de distribuição. Já nos países em desenvolvimento, o problema é a falta de esgotos e de água encanada. A água proveniente dos lençóis freáticos está sendo usada sem que se planeje uma exploração que leve em conta a capacidade de suporte desse tipo de ecossistema. A captação desenfreada dessa fonte está exaurindo sua recuperação.
Estatísticas da ONU revelam que aproximadamente 1 bilhão de pessoas não têm acesso a água tratada e cerca de 1,7 bilhão a esgoto. A falta de água limpa causa a morte de 4 milhões de crianças por ano, de doenças como cólera e malária. Mais da metade dos rios do mundo estão poluídos, provocando assoreamento e diminuição de seu volume. A exploração provoca secas cada vez mais dramáticas.
A produção mundial de alimentos depende da disponibilidade de água. Atualmente, a irrigação cobre cerca de 20% da área agrícola mundial e contribui para 40% da produção total de alimentos. A agricultura irrigada é responsável pela utilização de 70% de toda a água doce no mundo, e mais água deverá ser usada para atender à crescente demanda de alimentos.
Um estudo realizado pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) sobre os países em desenvolvimento já indicava, em 1993, que muitos dos que tinham problemas de escassez de água utilizavam seus recursos hídricos mais rápido do que seus reservatórios e mananciais pudessem ser renovados.
Se mais de 1 bilhão de pessoas no mundo não têm acesso a água potável, mais do dobro ainda não dispõe de saneamento adequado. Doenças adquiridas pela água matam 6 000 crianças diariamente nos paises em desenvolvimento e talvez uma das principais lições aprendidas a partir da implementação de programas de saúde e saneamento seja de que instalações sanitárias por si só não resultam em melhores condições de saúde.
A solução para esse problema envolve várias ações, desde a modernização da legislação até a conscientização de todos os setores da sociedade, para exigir de si mesmo e das autoridades um conhecimento mais profundo sobre a importância de se garantir água em quantidade e qualidade adequadas para as populações. E que, sociedade e governos possam encontrar juntos, soluções eficientes para a preservação desse bem que se torna cada vez mais escasso.
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